A Animale terá que pagar indenização a duas mulheres negras vítimas de racismo em uma loja da marca em Curitiba (PR), em 19 de maio de 2018. Uma delas é Rita Cristina de Oliveira, ex-secretária-executiva do Ministério dos Direitos Humanos em 2023 e 2024.
Para o juiz Lucas Cavalcanti da Silva, da 12ª Vara Cível de Curitiba, houve ato de racismo no caso. Por isso, cada uma delas — além de Rita, a decisão inclui sua mãe, Glória Maria da Costa Santiago de Oliveira — receberá R$ 30 mil da grife, por danos morais, com correção da inflação e de juros moratórios legais a partir da data do ocorrido.

Como foi o caso
Na ocasião, conforme relato publicado por Rita no Instagram, ela havia ido comprar um casaco com a mãe em uma loja da grife – focada em moda feminina, com vestuário, acessórios, calçados e joias – em um shopping da capital paranaense. Enquanto se dirigiam ao caixa para realizar o pagamento, após provar algumas bijuterias, elas foram obrigadas a mostrarem as bolsas a um gerente.
“Fui surpreendida com um corpo branco de fulminantes olhos azuis que não estavam ‘acostumados’ a ver gente negra abrindo a bolsa para pagar suas aquisições”, ela contou, na postagem. “Ele achou estranho, em uma sociedade em que, na sua mente, pessoas negras só abrem a bolsa para furtar algo sorrateiramente. E veio a ordem dilacerante: ‘Abram as bolsas!’ Minha mãe começou a chorar.”
O gerente se desculpou depois da intervenção de uma vendedora, de acordo com Rita. Ela e a mãe fizeram uma ocorrência policial por calúnia e injúria racial, e houve um inquérito para apurar o caso. Em comunicado divulgado à imprensa, a Animale disse que o “ocorrido não condiz com as boas práticas da empresa, que reforça seu compromisso com a valorização e o fomento da agenda diversidade, equidade e a inclusão”.

Ações afirmativas
A ex-secretária, no processo, também pediu algumas ações afirmativas para pessoas negras por parte da marca, mas os pedidos foram negados pelo juiz. Entre eles, estavam que a empresa pedisse desculpas publicamente a pessoas negras discriminadas nas lojas; que contratassem pessoas negras em campanhas; e implementassem cotas. A marca, fundada em 1991 no Rio de Janeiro, pertence ao conglomerado Azzas 2154, a fusão entre os grupos Soma e Arezzo.
“As ações afirmativas que não obtivemos nesse processo seguem sendo um desafio no setor privado”, comentou Rita, no relato publicado no Instagram.