Paul Volcker é o banqueiro central preferido de Jerome Powell, o atual presidente do Federal Reserve (Fed) — e não é à toa. Com as tarifas de Donald Trump batendo à porta do BC dos EUA, as lições deixadas por Volcker podem ser úteis agora.
Ele — que faleceu em 2019, aos 92 anos — ficou conhecido por combater agressivamente a inflação na década de 80, mas, como efeito colateral, lançou a economia norte-americana a uma recessão — que teve um desdobramento terrível para a América Latina, inclusive para o Brasil.
“Ninguém quer trabalhar em um banco central quando a inflação está elevada, mas todo mundo que comanda um banco central sabe o que fazer quando isso acontece. Volcker foi o cara que definiu os padrões dessas ações. Somos independentes não pelos bons ventos, mas pelos momentos mais difíceis e muito disso devemos a Volcker”, disse Powell em evento da Escola de Negócios da Universidade de Chicago.
Quase 44 anos se passaram daquele junho de 1981, quando Volcker elevou os juros a 20% nos EUA — algo sem precedentes na época — e é Powell que se vê em uma encruzilhada (não tão grande quanto a de Volcker, verdade seja dita).
De um lado, ele tem as políticas de Trump que ameaçam alimentar uma inflação que custou para esfriar desde a reabertura da pandemia de covid-19. De outro, a economia dos EUA dá os primeiros sinais de desaceleração.
“Todo mundo está prevendo a inflação das tarifas. Neste momento, ainda não sabemos de verdade o que vai acontecer. Teremos que esperar para ver. O que importa é o longo prazo da inflação e o quanto esses efeitos persistirão”, afirmou Powell.
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Juros em compasso de espera (de Trump)
No discurso de hoje, Powell voltou a repetir que não há pressa para o ajuste dos juros diante de tantas fontes de incertezas, especialmente aquelas ligadas às políticas tarifárias, de imigração e de corte de impostos de Trump.
“Olhando para o futuro, a nova administração está em processo de implementação de mudanças políticas significativas em quatro áreas distintas: comércio, imigração, política fiscal e regulamentação. É o efeito líquido dessas mudanças políticas que importará para a economia e para o caminho da política monetária”, disse.
“Embora tenha havido desenvolvimentos recentes em algumas dessas áreas, especialmente na política comercial, a incerteza em torno das mudanças e seus prováveis efeitos permanece alta”, afirmou.
“À medida que analisamos as informações recebidas, estamos focados em separar o sinal do ruído conforme a perspectiva evolui. Não precisamos ter pressa e estamos bem posicionados para esperar por maior clareza”, acrescentou.
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O que Powell disse que fez a bolsa subir
O dia começou difícil em Wall Street: o Dow Jones chegou a recuar mais de 300 pontos em meio aos temores do que o tarifaço de Trump pode provocar na economia norte-americana.
Mas Powell ajudou os principais índices da bolsa de Nova York inverterem o sinal e operarem no azul depois que disse que as políticas do primeiro mandato do republicano forçaram o Fed a cortar os juros.
“No primeiro governo Trump tivemos cortes de impostos, aumento de tarifas e queda na imigração. Na época, cortamos os juros porque o crescimento desacelerou muito”, disse ele, acrescentando que “não se trata simplesmente do que acontece com as tarifas, mas sim com a economia norte-americana”.
O mercado precifica três cortes de juros em 2025 — de 0,25 ponto percentual (pp) cada — a começar em maio ou junho. Até então, o mercado previa apenas uma redução. As projeções do Fed, que serão atualizadas neste mês, indicam dois cortes este ano.
O banco central norte-americano se reúne novamente nos dias 18 e 19 de março. Neste encontro não está previsto, pelo menos até o momento, qualquer afrouxamento monetário.
Ainda assim, o ímpeto que Wall Street recebeu de Powell não deve ser suficiente para garantir ganhos semanais — a bolsa por lá caminha para ter a pior semana desde setembro de 2024 por conta a preocupação como o futuro da economia em meio ao tarifaço de Trump.
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