A Arábia Saudita quer ser menos dependente do petróleo, mas é justamente a commodity que pode estar atrapalhando os planos megalomaníacos do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman de reformar o noroeste do país, transformando-o em uma potência econômica, tecnológica e turística.
Anunciado em 2017, o projeto da cidade futurista Neom – que contempla edifícios futuristas e ilha de luxo para turismo – está estimado no valor de US$ 1,5 trilhão (R$ 8,7 trilhões).
No entanto, agora em 2024, o reino saudita enfrenta desafios que podem diminuir o ritmo e talvez atrasar o cumprimento das metas da “Visão 2030” do país.
O déficit público da Arábia Saudita está em trajetória de crescimento, ao mesmo tempo em que a demanda por petróleo, juntamente com os preços globais da commodity, estão em níveis mais baixos.
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Daí o dilema: o país árabe quer ter uma economia menos dependente do petróleo, mas é o petróleo que fornece o capital necessário para avançar os projetos de diversificação da economia.
Como a Arábia Saudita foi de um superávit para um déficit em apenas um ano
As incertezas envolvendo a viabilidade financeira de Neom não são exatamente uma novidade: no começo deste mês, o CEO Nadhmi Al-Nasr, que estava no controle do projeto desde 2018, foi substituído, por motivos não muito claros.
“Conforme NEOM entra em uma nova fase de entrega, essa nova liderança garantirá continuidade operacional, agilidade e eficiência para corresponder à visão e aos objetivos gerais do projeto”, disse o comunicado anunciando a entrada de Aiman Al-Mudaifer como novo diretor executivo.
Enquanto isso, no cenário macroeconômico, o reino teve uma virada de chave bem significativa, passando de um superávit de US$ 27,6 bilhões em 2022 para um déficit de US$ 21,6 bilhões em 2026. O corte na oferta, acordado pela Opep+, somado ao aumento nos gastos públicos contribuíram para essa inversão dos indicadores.
Para 2024, o governo prevê mais um ano de déficit, na casa de US$ 21,6 bilhões.
Nesse contexto, alguns projetos da cidade futurista já foram até rearranjados. A cidade linear The Line precisou ser redimensionada: ao invés de 1,5 milhão de habitantes até 2030, deve abrigar apenas 300 mil.
Reino saudita vai ‘bancar’ o déficit em prol de planos futuros
Apesar disso, o reino diz estar preparado para continuar em situação de déficit pelos próximos anos para avançar os planos da Visão 2030.
Nas palavras do ministro das Finanças, Mohammed Al-Jadaan, em entrevista à CNBC, a trajetória de gastos do país é sustentável. Ele mencionou que a Arábia Saudita tem recursos fiscais relevantes à disposição e uma disciplina para lidar com esta questão fiscal.
“Nossas receitas não relacionadas ao petróleo cresceram significativamente e agora cobrem cerca de 37% dos gastos. Isso é uma diversificação importante e dá muita tranquilidade de que você pode ser estável, apesar da flutuação do preço do petróleo”, disse.
O reino está emitindo diversos títulos de dívida e já captou mais de US$ 35 bilhões neste ano. Além disso, também lançou uma série de reformas para impulsionar o investimento estrangeiro e diversificar as fontes de receita, o que foi bem visto pela S&P Global como uma ação para “melhorar a resiliência econômica e a riqueza”.
Na avaliação da S&P, a Arábia Saudita tem um risco de crédito A/A-1; para a Fitech, o rating é de A+.
*Com informações da CNBC.
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