São Paulo — Kauê do Amaral Coelho, apontado como olheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) no assassinato de Vinicius Gritzbach no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, comprou passagens aéreas para Rodrigo Giannetto, diretor do documentário O Grito – Regime Disciplinar Diferenciado, lançado pela Netflix, em 29 de setembro de 2024.
A informação consta no relatório final da Polícia Civil do inquérito que investiga as ações da ONG Pacto Social e Carcerário, acusada de ser um braço da facção paulista.
Conforme registros da polícia obtidos pelo Metrópoles, as passagens custaram R$ 18.350 e foram compradas por Kauê no dia 4 de outubro de 2024, na agência de viagens Fidelity Turismo.
Com saída de Guarulhos, Rodrigo teria passado seis dias em Barcelona, na Espanha, e ido à Itália para participar do Festival Internacional Nebrodi Cinema Doc, realizado entre os dias 7 e 13 de outubro de 2024.
Na volta, o diretor teria passado 10 dias em Londres, na Inglaterra, antes de retornar a São Paulo.
Documentário O Grito
- Conforme o relatório da Polícia Civil, o documentário O Grito apresenta um raio-x do sistema penitenciário “que, de forma precária, impulsiona o crescimento das facções criminosas – justamente aquilo que era para tentar evitar”.
- A obra conta as histórias das famílias de pessoas presas que foram afetadas pela portaria 157/2019 – que proibiu o contato físico e privou detentos nos presídios federais de segurança máxima, no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) de manter seus laços sociais e afetivos.
- O longa conta com a participação de personalidades como Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial,, Padre Júlio Lancelotti, Dexter, Oruam, filho de Marcinho VP.
- Também há entrevistas inéditas de familiares de presos como Marcola, Marcinho VP, Paulinho Neblina e outros.
- O Grito foi realizado com produção da Real Filmes e estreou na Netflix em 29 de setembro de 2024.
“Foram cinco meses de produção em jornadas por todo país, pesquisando, apurando, criando e, principalmente, dando oportunidade para que todos os lados envolvidos nessa complexa questão gritassem suas verdades e expressassem suas opiniões”, disse Giannetto sobre a produção do documentário.
Outro lado
A Netflix informou ao Metrópoles, por meio de sua assessoria, que não tem ligação com a realização do documentário, uma vez que se trata de um produto licenciado que está apenas disponível na plataforma. Por não ser um documentário original da Netflix, a empresa não se manifestou.
Um conteúdo licenciado, segundo a assessoria, é aquele produzido por terceiros, adquirido pela Netflix para estar disponível temporariamente aos assinantes. No caso de O Grito, a plataforma não participou da produção.
Por meio de nota, Giannetto afirmou que as passagens aéreas foram facilitadas como um incentivo para representar o filme em um festival internacional, no qual o longa foi premiado.
” Estavam presentes várias ONGs num encontro para o lançamento do filme, onde fui indicado a uma agência com bons preços e
descontos, que emitiu e enviou os bilhetes. Meu contato foi única e exclusivamente com a agência e quando fui fazer o pagamento, ele já havia sido quitado, o que entendi e recebi como um apoio para minha representação no festival. Todos os outros custos da viagem foram custeados por mim”, disse o diretor.
Ele afirmou ainda desconhecer Kaue, “assim como desconhecemos equipes, funcionários ou os processos e as pessoas envolvidas internamente nas ONGs, bem como suas equipes e funcionários”. O diretor disse estar à disposição das autoridades para esclarecimentos necessários e não ter nenhuma relação com questões envolvendo crime organizado.