Donald Trump parece magoado com o Brasil.
Algumas horas depois da ligação de Vladimir Putin para Lula, o presidente norte-americano incluiu nosso impávido colosso na lista de países que, segundo ele, “taxam demais” e “querem mal” aos EUA.
“Imponha tarifas a países e estrangeiros que realmente nos querem mal”, pediu Trump a congressistas de seu partido, o Republicano, em evento ocorrido na noite de segunda-feira (27).
“A China é um grande criador de tarifas. Índia, Brasil, tantos, tantos países. Então, não vamos deixar isso acontecer mais, porque vamos colocar os EUA em primeiro lugar, sempre colocar os EUA em primeiro lugar”, disse Trump.
Esta não é a primeira vez que Trump usa aquela que considera a palavra mais bonita do dicionário para se queixar dos brasileiros, conhecidos por múltiplos defeitos — e o coração peludo em relação a estrangeiros certamente não é um deles.
Pouco depois de vencer as eleições, Trump já havia citado o Brasil como exemplo de país com tarifas alfandegárias supostamente excessivas sobre produtos norte-americanos.
De qualquer modo, o mundo segue em compasso de espera em relação ao cumprimento das ameaças de impor tarifas e “enriquecer os americanos”, pobrecitos.
Também na noite de ontem, Trump falou de maneira genérica sobre a intenção de sobretaxar uma série de produtos importados pelos EUA, passando por semicondutores, aço e insumos para a indústria farmacêutica.
Essa retórica, no entanto, pode estar ultrapassada e quem prova isso é a DeepSeek.
Depois do estrondo provocado pela ferramenta de inteligência artificial (IA) chinesa no mercado, Trump não deu o braço a torcer e saudou hoje a iniciativa.
“É algo bom porque você não precisa gastar tanto dinheiro. Eu vejo isso como algo positivo, uma vantagem”, afirmou.
A declaração faz referência ao fato de a DeepSeek ter construído seu chatbot modelo R1 com custos de produção menores do que os de concorrentes como OpenAI e Google.
O republicano aproveitou a ocasião para mandar também um recado para as big techs norte-americanas.
“O lançamento da DeepSeek, IA de uma empresa chinesa, deve ser um alerta para as nossas indústrias de que precisamos estar focados em competir para vencer”.
Só que o recado, na realidade, é para o próprio Trump.
Os EUA impuseram restrições severas projetadas para impedir que empresas chinesas comprem ou construam seus próprios chips de computador de ponta necessários para treinar modelos de IA.
Esses chips estão no centro da corrida armamentista da IA e o objetivo das restrições à exportação é impedir que a China acompanhe.
Não foi à toa que Trump não deu o braço a torcer hoje.
O sucesso da DeepSeek mostra que as restrições de exportação do governo norte-americano saíram pela culatra: elas podem ter encurralado Pequim de tal forma que ajudaram as empresas chinesas a encontrar maneiras de inovar com baixo custo.
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