A investigação da Polícia Federal na operação Sequaz revela a cronologia do plano colocado em prática por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) para sequestrar o ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro.
A PF descobriu a existência do planejamento após depoimento de um ex-integrante da facção. Na quarta-feira (22/1), a Justiça Federal no Paraná condenou oito integrantes do PCC que participaram da tentativa de sequestro.
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, em meados de 2022 integrantes do PCC deram início a execução do plano. Em 20 de janeiro daquele ano, uma integrante de nome Aline alugou um apartamento em São Paulo.
Meses depois, em 30 de maio, Janeferson Gomes Mariano, o Nefo, pediu a Aline a execução de um “trabalho responsa”. A tarefa seria obter informações e dados sobre Sergio Moro. Nefo, morto na cadeia após o plano se tornar público, é apontado como o líder da empreitada que mirava Moro.
O motivo do sequestro planejado pelo PCC seria ações do ex-juiz como ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro (PL).
Entre elas, a transferência de lideranças da facção para o sistema prisional federal e a proibição de visitas íntimas nesses estabelecimentos penais. Em 31 de maio de 2022, Aline manda mensagem para um celular que seria de Nefo.
“Amor, deixa eu te perguntar? Eu poderia me programar pra ir pra Curitiba dia 01, o que você acha?”, disse. “Sim, veja já flat etc. Locar p dias (sic). E meter marcha”, respondeu o contato.
Em 04 de junho, em nova conversa, Nefo manda para Aline os códigos que seriam utilizados para se referir ao plano. “MS – México. Moro – Tokio. Sequestro – Flamengo. Ação – Fluminense”, enviou Nefo.
No dia 23 de junho, Aline viaja para Curitiba. Cerca de um mês depois, em 26 de julho, o grupo compra um veículo Mercedes Benz ML 500, que passou a ser chamado de “cofre, e seria utilizado no plano contra Moro.
Ainda junho, no dia 31, um dos integrantes do grupo salva em uma conta da Apple um printscreen do aplicativo Notas do Iphone com o controle de gastos da ação. No total, mostram os dados colhidos pela PF, a previsão naquele momento era de R$ 564 mil para custear armas, aluguéis, viagens, carros e remuneração de motorista para o sequestro.
No mês de agosto, no dia 24, um integrante do grupo liga para uma imobiliária em busca de um imóvel em Curitiba. Já em setembro, o contrato de aluguel de um apartamento na cidade é formalizado. O aluguel, diz a denúncia, foi de R$1,8 mil.
Em 6 de setembro, o grupo aluga outro imóvel na cidade. Dessa vez, uma casa em um bairro próximo a saída para rodovias. Depois de 1 mês, em outubro, Aline salva em seu notebook várias imagens de Moro e de seus familiares.
“Registra-se, por oportuno, que o levantamento da vida do ex-ministro e então candidato a senador ocorreu entre os dois turnos das eleições de 2022”, diz o MPF. No dia 21 de outubro, Aline salva printscreen no qual descreve as características do local de votação de Moro. Entre elas, entradas de acesso, localização de câmeras de segurança, guaritas e vigias e rotas de fuga.
No mesmo dia, após desconfiança da imobiliária, os criminosos saíram da casa e do apartamento. No dia seguinte, um dos integrantes do grupo visita uma chácara na região de Curitiba com o objetivo de alugá-la.
O local, segundo MPF, seria utilizado como cativeiro de Moro. “A chácara Vegas foi alugada entre os dias 28 de outubro e 5 de novembro, isto é, justamente no período do segundo turno das eleições, quando seria consumado o sequestro pelo plano inicial, contudo, aparentemente os criminosos permaneceram na chácara por apenas um dia”, diz o MPF.
Para os investigadores, por algum motivo ainda desconhecido, a primeira tentativa de sequestro fracassou.
Em 28 de outubro, integrantes do grupo alugam outro imóvel em Curitiba. Já em novembro, investigadores encontraram registro da compra de duas camas de solteiro.
Para os investigadores, nesse momento, o grupo já estava na segunda tentativa uma vez que a primeira no segundo turno das eleições não ocorreu.
Já na segunda tentativa, durante o mês de novembro, Aline levantou mais informações sobre Moro.
Foram levantadas imagens do prédio de Moro, a localização do escritório de advocacia da esposa do ex/juiz, imagens das redes sociais de integrantes da família do senador e de pessoas ligadas a eles, endereços ligados a Câmara, Senado e ministérios em Brasília, notícias sobre Moro e a esposa e o endereço dele encontrado em um processo.
Com base nesses dados, Aline produziu um relatório. Os dados também foram encontrados em uma anotação manuscrita intitulado “Sérgio Fernando Moro”, cuja foto Aline enviou para outros integrantes do grupo.
Em 13 de dezembro, Nefo pediu a Aline para enviar “aquele relatório que você tinha, aquele primeiro que você mando, o segundo, os endereços, se tiver foros, foto do apartamento, foto da menina, tudo o que você tiver”.
Depois desse pedido, já em janeiro de 2023, outro integrante do grupo retornou a Curitiba para realizar “diligências em relação ao alvo”. Na mesma época, uma mulher que fazia parte do grupo tentou alugar uma chácara na região metropolitana de Curitiba para 15 pessoas.
Em fevereiro, o grupo novamente realizou atividades de logística e monitoramento relacionado a Moro e seus familiares. “Fica bastante claro, portanto, que após a frustração dos planos de sequestro iniciais em relação a Sérgio Fernando Moro, a organização criminosa seguiu atuando de maneira estrutura da e com divisão de funções na consecução do objetivo criminoso”, diz o MPF.
No mês seguinte, em março, a PF realizou a operação Sequaz e prendeu os integrantes do PCC envolvidos no plano.