Em carta endereçada ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e à ministra do Planejamento, Simone Tebet, o Gabriel Galípolo explicou os motivos por trás do desvio da meta de inflação em 2024 — um de seus primeiros atos como presidente do Banco Central (BC).
De acordo com o novo chefe da autoridade monetária, a depreciação cambial foi a principal “vilã” que fez com que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado ao longo dos 12 meses de 2024 ficasse 4,83%, acima da meta de 3%.
Trata-se da oitava vez desde 1999 em que a meta de inflação estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) não é cumprida pelo Banco Central. Nos últimos quatro anos, ocorreram três descumprimentos da meta
Sempre que isso acontece, o presidente da autarquia é obrigado a prestar contas ao ministro da Fazenda, explicando as razões pelas quais não conseguiu atingir sua principal missão institucional.
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Outras razões para o estouro da meta de inflação
Além da depreciação cambial, o BC também citou o forte crescimento da atividade econômica, condições climáticas adversas e a inércia da inflação do ano anterior.
“O grau de utilização dos fatores de produção foi crescente, com destaque para a mínima histórica alcançada pela taxa de desemprego. O mercado de trabalho apresentou resultados robustos em 2024. A taxa de desocupação continuou trajetória de rápido declínio, atingindo 6,5% em novembro (dados ajustados sazonalmente), menor valor da série histórica”, disse o BC.
O BC ressaltou que os desastres climáticos também tiveram um impacto significativo, com a seca que afetou parte do país elevando os preços de alimentos, especialmente carnes e leite, devido à deterioração das pastagens, além de produtos como café e laranja.
As enchentes no Rio Grande do Sul também influenciaram os preços de alimentos no segundo trimestre, principalmente no estado, mas a maior parte desse efeito foi revertida nos meses seguintes.
O Banco Central estima que as condições climáticas contribuíram diretamente com 0,38 pontos percentuais na variação do IPCA em 2024.
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Pressão inflacionária em diversos segmentos em 2024
O IPCA acelerou de +0,39% para +0,52% na passagem de novembro para dezembro. Diante disso, a inflação acumulada ao longo dos 12 meses de 2024 ficou em 4,83%.
O resultado ficou abaixo da mediana das expectativas contidas no último boletim Focus (+4,89%) e desacelerou levemente em relação a novembro (+4,87%).
Na carta endereçada ao ministro da Fazenda, o BC cita, entre os destaques, a alimentação no domicílio, que teve um aumento de 8,22% devido a fatores como a seca, o ciclo do boi, a depreciação cambial e o crescimento dos preços internacionais das commodities agrícolas.
Já os bens industriais tiveram uma inflação de 2,89%, influenciada pela depreciação cambial, pela alta dos preços das commodities metálicas e pela atividade econômica.
A inflação dos serviços caiu para 4,77%, mas excluindo passagens aéreas, o aumento foi de 5,53%.
No segmento de preços administrados, a maior alta foi da gasolina (9,70%), impactada pela depreciação cambial, aumento do etanol anidro e elevação do ICMS sobre o combustível.
Além disso, os planos de saúde e os produtos farmacêuticos também registraram altas significativas, de 7,88% e 5,96%, respectivamente.
Depreciação cambial, a grande “vilã” da inflação
Dentro da inflação importada, o aumento do valor do dólar em relação ao real teve um impacto mais expressivo para o estouro da meta, contribuindo com uma alta de 1,21 pontos percentuais na inflação.
No entanto, parte desse efeito foi atenuada pela queda do preço internacional do petróleo, que resultou em uma redução de 0,59 pontos percentuais, de acordo com o BC.
A carta ressalta que a taxa de câmbio passou de R$ 4,95 na média do último trimestre de 2023 para R$ 5,84 no mesmo período de 2024, uma variação de 18,0%.
Ao comparar as médias de dezembro de 2023 e 2024, a taxa de câmbio subiu de R$ 4,90 para R$ 6,10, uma alta de 24,5%, o que representa uma desvalorização de 19,7% do real.
“O fato de o real ter sido a moeda de maior depreciação em 2024, considerando seus pares ao nível internacional e os países avançados, sugere que fatores domésticos e específicos do Brasil tiveram papel expressivo nesse movimento cambial”, diz a carta.
“No âmbito doméstico, a percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio”, afirma o BC.
Com isso, a carta destaca que “a significativa depreciação cambial decorreu principalmente de fatores domésticos, complementada pela apreciação global do dólar norte-americano”.
Vale destacar que, nesta sexta-feira (10), o dólar à vista fechou em alta de 0,99%, aos R$ 6,1031. Em dezembro, a moeda norte-americana chegou a maior cotação intradia desde a criação do Real, em 1994.
Meta de inflação para 2025 e 2026
Assim como em 2024, a meta de inflação para 2025 e 2026 será de 3,00%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.
A partir deste mês, o BC deverá manter a inflação acumulada em 12 meses dentro da meta mensalmente, e a meta será considerada descumprida se ficar fora do intervalo por seis meses consecutivos.
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