O ditado diz que depois da tempestade, vem a bonança — mas, não para os mercados brasileiros, parece que o pior ainda não passou. A bolsa e o dólar continuam sentindo os efeitos da sessão conturbada de quarta-feira (18). Lá fora, o desempenho também não é dos melhores.
As nuvens continuavam carregadas durante a manhã. O Banco Central entrou no mercado à vista com um leilão de US$ 3 bilhões para tentar baixar a temperatura do câmbio, mas pouco adiantou. A moeda norte-americana bateu a máxima do dia ao tocar os R$ 6,30 (+0,55%).
Cerca de uma hora depois, o BC voltou a agir com um novo leilão à vista de até US$ 5 bilhões. Dessa vez, a operação conseguiu trazer algum alívio: o dólar caiu para as mínimas da sessão, abaixo de R$ 6,15.
Do lado da bolsa, o Ibovespa avançava para o nível de 121 mil pontos depois de perder a marca com o tombo de 3% de ontem. O índice, que já renovou máxima intradiária hoje, recebe ajuda das ações ligadas à commodity, em especial, da Petrobras (PETR4).
Além da escalada do dólar mais cedo, também chama atenção a disparada dos juros futuros — os mais longos chegaram a subir 50 pontos-base.
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O que mexe com a bolsa e o dólar hoje
Além do risco fiscal, o mercado brasileiro precifica a piora das projeções de inflação — para cima a partir de 2025 — e do crescimento da atividade — para baixo — trazida pelo relatório trimestral de inflação (RTI), divulgado mais cedo.
Vale lembrar que o Comitê de Política Monetária (Copom) já havia informado, no comunicado da semana passada, a elevação das estimativas para o IPCA de 2024 e 2025, para 4,9% e 4,5%, respectivamente.
Às vésperas do recesso parlamentar, que começa na segunda-feira (23), a Câmara adiou para hoje a votação em plenário da PEC e do projeto de lei complementar do pacote de ajuste fiscal por falta de votos na noite anterior.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), confirmou sessão semipresencial hoje para a votação das três propostas que formam o pacote, e disse que pode convocar sessão no sábado (21) para votar também as leis orçamentárias.
Vale lembrar que já foi aprovado o pacote fiscal que limita o bloqueio de emendas apenas às não obrigatórias e confirmada a revogação do antigo DPVAT.
Além disso, a urgência para projeto que regula perdas no recebimento de créditos tributários por instituições financeiras, que pode gerar arrecadação adicional ao governo de mais de R$ 16 bilhões em 2025, também recebeu luz verde.
No RTI, o Banco Central afirma que o pacote fiscal apresentado pelo governo parece não ter gerado impacto positivo sobre a percepção de analistas do mercado acerca das contas públicas.
“Em parte, essa reação está associada à avaliação de que as medidas fiscais são insuficientes”, disse o BC.
E essa percepção que pressiona o câmbio. Apesar do alívio após o segundo leilão do BC no mercado à vista, o dólar acumula alta de 7% em 30 dias e de quase 30% no ano.
Com as operações desta quinta-feira, o BC já injetou US$ 20,760 bilhões no mercado de câmbio desde o último dia 12. Ao todo, US$ 13,760 bilhões foram injetados em leilões à vista, e o restante, em leilões de linha, com compromisso de recompra.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que a autoridade monetária continuará atuando, mas que não há muito mais a ser feito.
“A gente entende que nesse momento, com as outras fragilidades que existem e com o fluxo [de saída] que é muito acima da média, o Banco Central precisa atuar na forma como a gente está atuando”, disse.
“A gente está mapeando o fluxo no dia a dia. Temos uma percepção de que um pedaço grande do fluxo vem até sexta-feira, até semana que vem, porque a gente tem uma semana de Natal e Ano Novo onde você tem um volume menor de operações”, explicou.
Vale lembrar que a valorização do dólar também acontece na esteira da decisão do Federal Reserve (Fed) do dia anterior. O banco central norte-americano cortou, como esperado, os juros em 25 pontos-base, mas sinalizou que tem espaço para reduzir o ritmo de afrouxamento em 2025.
O Seu Dinheiro detalhou a decisão do Fed e você pode conferir tudo aqui.
Ainda assim, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ontem que a taxa de câmbio no Brasil está pressionada por especulações, mas que deve haver uma acomodação adiante.
“A previsão de inflação para o ano que vem, a previsão de câmbio para o ano que vem, até aqui, nas conversas com as grandes instituições, são melhores do que as que os especuladores estão fazendo”, afirmou.
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Wall Street de ressaca?
Em Wall Street, as bolsas iniciaram a sessão com alta de mais de 1%, buscando correção das perdas de ontem após o Fed sinalizar menos cortes de juros em 2025.
Por lá, a volatilidade cai. O chamado termômetro do medo de Wall Street disparou na quarta-feira (18) para 30%, refletindo a maior incerteza dos investidores sobre o caminho dos juros nos EUA. Agora, o índice está próximo de 20%.
No mercado de dívida, no entanto, a pressão continua. O yield (rendimento) dos títulos do Tesouro de 10 anos — usado como referência no mercado — subiu para 4,569% na manhã de hoje, após saltar mais de 13 pontos e cruzar 4,50% no dia anterior.
Além da decisão do Fed, declarações do presidente eleito Donald Trump também ajudam a levar os yields às máximas. O republicano que disse desaprovar o orçamento provisório sugerido pelo Congresso e que apoiaria abolir teto da dívida.
Os investidores também olham para novos dados divulgados hoje. A economia dos EUA cresceu em um ritmo mais rápido no terceiro trimestre do que o estimado anteriormente, de acordo com a última leitura do Departamento de Comércio.
O Produto Interno Bruto (PIB) acelerou em um ritmo anualizado ajustado sazonalmente de 3,1% entre julho e setembro, 0,3 ponto percentual melhor do que a leitura anterior e acima da estimativa de consenso de 2,9% da Dow Jones.
Os gastos do consumidor, que respondem por cerca de dois terços de toda a atividade na economia dos EUA de US$ 29,4 trilhões, aumentaram 3,7% no trimestre, 0,2 ponto percentual mais rápido do que a estimativa anterior.
Junto com o PIB, o Departamento de Comércio dos EUA divulgou dados de inflação do terceiro trimestre. O índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) — a medida preferida do Fed — subiu ao ritmo anualizado de 1,5%, em linha com as leituras anteriores.
No mercado de trabalho, os pedidos iniciais de seguro-desemprego caíram de volta à tendência recente, após um breve pico: totalizaram 220.000 na semana encerrada em 14 de dezembro, um declínio de 22.000 em relação ao período anterior e menor do que a estimativa do Dow Jones de 230.000.
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As bolsas e o dólar mundo afora
O mercado global reage, de modo geral, à sinalização do Fed de que as condições monetárias serão mais rígidas em 2025.
As principais bolsas da Europa recuam mais de 1% perto do fechamento, enquanto os yields dos títulos públicos europeus sobem — o spread entre os papéis do Reino Unido e da Alemanha atingiu 243 pontos-base, o maior em 34 anos.
O mercado na Ásia também levou um tombo hoje.
No Japão, além do Fed, os investidores avaliaram a decisão do BoJ de manter os juros inalterados em 0,25% pela terceira reunião consecutiva.
O iene caiu 0,74% para 155,94 contra o dólar, atingindo o menor patamar em um mês, enquanto o governador do BoJ, Kazuo Ueda, disse que o banco central japonês elevará os juros se a economia se mover de acordo com a previsão.
Em resposta à ação do banco central, o Nikkei 225 perdeu 0,69% para fechar em 38.813,58, enquanto o Topix caiu 0,22%, fechando em 2.713,83.
Na China, o yuan perdeu força, a 7,3218 em relação ao dólar. Amanhã (20), o BC chinês deve divulgar as taxas de empréstimo de referência.
A taxa básica de juros de um ano, que afeta os empréstimos corporativos e a maioria das famílias, foi mantida em 3,1% no mês passado e a LPR de 5 anos, uma referência para hipoteca, foi mantida em 3,6%, após um corte de 25 pontos-base em outubro.
As autoridades chinesas prometeram adotar uma postura de política monetária “moderadamente frouxa” no início deste mês, levando o mercado a prever mais cortes de taxas no futuro.
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