O mercado olhava com desconfiança para a Vale no terceiro trimestre: embora tenha apresentado produção sólida para o período, as vendas não acompanharam e a crise na China, junto com preços mais fracos do minério de ferro, seguiam como pedras no caminho da companhia. Na noite de quinta-feira (24), no entanto, o balanço da mineradora trouxe gratas surpresas e as ações VALE3 encontraram um lugar entre as maiores altas do Ibovespa hoje.
“Apesar da queda de resultados, o que já era amplamente esperado, vimos algumas melhorias principalmente relacionadas aos custos, que se somam aos bons volumes de produção que já tinham sido adiantados na prévia”, disse Ruy Hungria, analista da Empiricus Research.
Entre julho e setembro, a Vale alcançou lucro líquido de US$ 2,412 bilhões — o que representa uma queda de 15% ante igual período de 2023 e de 13% na comparação trimestral.
O Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado somou US$ 3,615 bilhões, resultado 18% abaixo do registrado em igual período de 2023 e 9% menor na comparação com os três meses imediatamente anteriores.
A Vale explica que o desempenho no terceiro trimestre é decorrente, principalmente, dos menores preços realizados de finos de minério de ferro, que caíram US$ 12 a tonelada, compensado apenas parcialmente por maiores volumes de vendas de minério de ferro.
Por volta de 13h25, as ações da Vale subiam 3,97%, cotadas a R$ 62,04 — a terceira maior alta do Ibovespa. No ano, no entanto, os papéis amargam queda de 13,5%. No mês, as perdas acumuladas são menores, de -2,4%.
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O desempenho da Vale na visão de bancos e corretoras
O JPMorgan lê como positivos os resultados da Vale no terceiro trimestre, com a companhia conseguindo apresentar bons desempenho devido à redução nos custos.
O banco lembra que a Vale já havia divulgado os números de produção e vendas, com o foco voltando-se para os custos, que apresentaram uma redução significativa.
Em relatório, os analistas Rodolfo Angele e Tathiane Martins avaliam que os resultados dos metais básicos, no entanto, não atenderam às expectativas do JP Morgan, com o níquel enfrentando preços baixos e custos elevados.
O segmento de Metais de Transição Energética apresentou um queda de 46,0% na comparação trimestral no Ebitda, ficando abaixo das expectativas do banco.
Já o Goldman Sachs diz que os números apresentados pela Vale no terceiro trimestre deste ano demonstram uma melhora operacional contínua da companhia.
Em relatório, os analistas Marcio Farid, Gabriel Simões e Henrique Marques lembram que, quando a mineradora divulgou volumes e preços de vendas, já se observava uma redução no ponto de equilíbrio do Ebitda de minério de ferro para US$ 61,4 por tonelada, com expectativa de melhoria contínua, dada a redução de 12% no custo C1 (da mina ao porto) de setembro em relação à média do trimestre.
A XP Investimentos também está no bloco dos que enxergam o desempenho financeiro da Vale entre julho e setembro como positivo.
Os bancos e corretoras também viram com bons olhos o acordo da Vale relativo ao desastre em Minas Gerais. “Aos poucos, a Vale vai endereçando as preocupações que pairam sobre a tese”, disse Hungria, da Empiricus.
A mineradora atualizou as projeções para os compromissos decorrentes dos eventos em Brumadinho e Mariana para US$ 1 bilhão em 2024.
- Brumadinho: a descaracterização custará US$ 500 milhões anualmente até 2026, caindo para US$ 400 milhões em 2027 e US$ 200 milhões a partir de 2028. Os acordos terão desembolsos de US$ 1,1 bilhão em 2024, diminuindo gradualmente até US$ 100 milhões em 2028. As despesas anuais serão de US$ 400 milhões até 2026, ajustando-se para US$ 300 milhões em 2027 e voltando a US$ 400 milhões a partir de 2028.
- Mariana: os valores passaram para US$ 1 bilhão em 2024, US$ 2 bilhões em 2025, US$ 1,1 bilhão em 2026, US$ 500 milhões em 2027, com consequente redução para US$ 400 milhões e US$ 300 milhões em 2029 e em 2030.
Mais cedo, a mineradora assinou um acordo definitivo no valor de R$ 170 bilhões com o governo federal, os estados de Minas Gerais e Espírito Santo e órgãos públicos para a reparação integral dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, ocorrido em 5 de novembro de 2015, em Mariana.
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Vai ter dividendo da Vale?
Para o BTG Pactual, a Vale reportou um conjunto decente de números no terceiro trimestre, mas o banco destaca como negativa a geração de fluxo de caixa livre (FCF) praticamente nula e o Ebitda em níquel que precisa de atenção dada a atual pressão de preços nesse mercado.
“A contradição aqui reside na capacidade de a empresa fornecer resultados melhores e uma história ascendente mais forte, enquanto o FCF permanece sob pressão devido a pesadas ‘outras despesas’, sem expectativa de dividendos extraordinários nos próximos anos”, disse o BTG em relatório.
O Safra, que classificou o desempenho da Vale no terceiro trimestre como neutro, destaca que a posição da dívida líquida de US$ 16,5 bilhões — dentro da meta de US$ 10 bilhões a US$ 20 bilhões — permitiria à empresa distribuir dividendos extraordinários.
O banco, no entanto, acredita que isso pode não acontecer, já que a administração pode achar interessante manter uma margem maior de segurança diante da possível volatilidade dos mercados.
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Vender ou comprar as ações da Vale?
Os bancos e corretoras têm uma visão unânime sobre a Vale neste momento: comprar as ações da mineradora.
O Goldman manteve a recomendação de compra para os American Depositary Receipts (ADRs) da Vale, com preço-alvo de US$ 15,50, o que representa um potencial de valorização de 47,8% sobre o fechamento de ontem.
O Safra também seguiu com a recomendação de compra para as ações da Vale, com preço-alvo de R$ 73,00, um potencial de alta de 22%.
Para a Empiricus, por apenas 3,6 vezes o valor da firma/ebitda e muito pessimismo embutido nos preços, a Vale segue com recomendação de compra assim como para a XP.
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