O fabuloso destino de Amélie Poulain é um filme que renova o mito de que Paris é uma cidade de tamanha beleza e encantos que muda para sempre quem a visita ou resolve passar uma temporada por lá. A partir desta quarta-feira (4), quem não será mais a mesma é a capital da França — mas o motivo nada tem a ver com elegância ou exuberância: a segunda maior economia da zona do euro mergulha em um período de profunda incerteza.
O cinema, a literatura e a ficção — frequentemente a partir de um olhar estrangeiro — ajudaram a construir uma imagem de que Paris é a cidade mais sofisticada e avançada do mundo. Mas a política nos lembra a todo o tempo que a história não é bem essa. E hoje não foi diferente.
A aliança nada comum da esquerda com a extrema direita resultou no apoio a uma moção de desconfiança na câmara baixa da França — 331 legisladores superaram em muito os 288 votos necessários — que derrubou o governo depois que o primeiro-ministro Michel Barnier usou poderes constitucionais especiais para forçar um projeto de lei de orçamento da previdência social no Parlamento sem uma votação.
Perder o voto de confiança significa que Barnier será forçado a apresentar sua renúncia ao presidente francês, Emmanuel Macron, apenas três meses após ter sido empossado como primeiro-ministro — a administração de Barnier será a mais curta da Quinta República da França, que começou em 1958.
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Os bastidores da queda
A queda do primeiro-ministro ocorre após várias semanas de negociações com partidos de oposição para tentar chegar a um acordo sobre apenas uma parte do orçamento mais amplo de 2025, que incluía 60 bilhões de euros em cortes de gastos e aumentos de impostos vistos como necessários para domar o déficit fiscal da França, que deve ficar em 6,1% em 2024.
O problema é que o governo minoritário de Barnier não conseguiu conquistar oponentes de nenhum dos lados do espectro político.
Ele enfrentou a perspectiva de mais barganhas sobre o orçamento mais amplo que tinha que ser aprovado até 21 de dezembro e estava vulnerável aos caprichos da extrema direita, que havia concordado em apoiar o governo até que os desentendimentos sobre gastos chegaram ao auge no início desta semana.
Durante um debate antes da votação, Barnier chegou a dizer aos legisladores que “não tinha medo” de ser derrubado, mas pediu aos partidos que trabalhassem juntos e “fossem além do interesse geral” para superar as divisões.
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O futuro da França a partir de agora
Essa seria mais uma queda de governo se não estivéssemos falando da segunda maior economia da zona do euro — só que o problema não é apenas esse.
A moção de desconfiança implica no pedido de renúncia do primeiro-ministro, mas Macron provavelmente deve pedir que Barnier continue no cargo enquanto procura um substituto — novas eleições parlamentares não podem ocorrer antes de junho-julho, 12 meses após a última votação.
Fato é que o destino de Barnier é um forte aviso para o próximo primeiro-ministro diante dos perigos e armadilhas que enfrentará ao tentar chegar a um consenso sobre o orçamento e outras decisões políticas importantes, dadas as profundas divisões na política da França expostas desde a decisão mal avaliada de Macron de convocar eleições antecipadas no início deste ano.
Soma-se a isso o fato de que o próprio Macron deve enfrentar demandas da esquerda e da direita para que renuncie, abrindo caminho para que uma nova eleição presidencial seja realizada muito antes da prevista para 2027 — embora improvável, a renúncia de Macron desencadearia eleições presidenciais em 35 dias.
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E o orçamento da França?
Quanto ao orçamento, a queda de Barnier e do governo significa que todas as propostas apresentadas caem também.
A saída mais provável é que um orçamento de emergência seja aprovado dentro do mês, efetivamente transferindo a legislação tributária de 2024 até que um orçamento de 2025 seja acordado.
A partir daí começa uma corrida contra o tempo: o orçamento de 2025 na França não pode ser aprovado por um governo interino, colocando pressão sobre Macron para a escolha de um novo primeiro-ministro rapidamente.
*Com informações da Reuters e da CNBC
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