Professora do departamento de matemática da Universidade de Brasília (UnB), Chang Chung Yu Dorea foi uma das moradoras do Distrito Federal mais investigadas pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Além dela, estão na lista de espionados docentes da educação básica e de história da rede pública, funcionários de carreira do governo federal e servidores do judiciário local.
De acordo com os autos da investigação, a docente aposentada foi monitorada 102 vezes em um intervalo de dois meses em 2020.
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A credencial usada para investigar a chinesa naturalizada brasileira pertencia a quatro servidores da Abin. A investigação não resultou em operação.
Em quatro décadas na UnB, Chang orientou mais de 30 teses e dissertações, supervisionou cinco estágios de pós-doutorado e coordenou vários projetos de pesquisa financiados por instituições nacionais e estrangeiras. Foi ainda coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Matemática por 13 anos.
Chang Chung atuou como pesquisadora nível sênior do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os seus estudos estão concentrados principalmente na área de probabilidade, com ênfase em inferência em processos estocásticos, estatísticas extremais, algoritmos estocásticos, processos de risco e de extremos e cadeias de Markov não-homogêneas.
Chang publicou mais de 60 artigos em revistas internacionais, possui obra com selo do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e escreveu vários capítulos de livros.
Ela atuou também como pesquisadora associada sênior no Departamento de Matemática da UnB. Em 2018, foi homenageada pela UnB com o título de Professora Emérita.
Moradores de Brasília espionados
A Abin Paralela investigou ao menos 12 moradores do Distrito Federal. O sigilo dos autos da investigação foi derrubado nessa quarta-feira (18/6) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. A decisão foi tomada após a Corte constatar vazamentos seletivos de trechos do relatório policial.
Segundo o relatório, uma servidora do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) foi a moradora do DF mais investigada pelo uso do software de inteligência israelense FirstMile. A ferramenta permite rastrear a localização de pessoas a partir de informações fornecidas por torres de telecomunicações.
Dois servidores espionaram a funcionária do tribunal local 398 vezes de 13 de fevereiro de 2019 a 1º de janeiro de 2021. Dessa forma, o levantamento indica que eles usaram a ferramenta quase 400 vezes para monitorar onde ela estava naquele exato momento.
Na época, a servidora era assistente da Vara Criminal e Tribunal do Júri do Núcleo Bandeirante. Apesar da quantidade de monitoramentos, não houve um registro de operação associada a esse caso, conforme consta no relatório da Polícia Federal.
O professor de educação básica do GDF Elizândio de Aquino Marinho foi monitorado ao menos 22 vezes por servidores da Abin. Uma colega dele na Secretaria de Educação, professora de história da rede pública do DF, foi investigada sete vezes – todas em apenas dois dias. O relatório da PF informa que a operação “Pia” ocorreu após esse monitoramento, mas não explica que ação foi essa.
O assessor de imprensa Evandro de Araujo Paula, que trabalha para a deputada federal Bia Kicis (PL-DF), foi alvo de espionagem cinco vezes pela Abin.
Por quatro vezes, de novembro de 2019 a fevereiro de 2020, a analista aposentada do Senado Federal Tânia Povoa Lustosa foi monitorada pela Abin Paralela.
Os servidores Sérgio Eduardo Soares Allen, da Secretaria de Desenvolvimento Social do DF, e Maria Raquel Piracicaba Peixoto, da Secretaria de Cultura do DF, também estão na lista dos investigados pela agência.
O analista do Ibama Hugo Ferreira Netto Loss também foi espionado. A PF alega que o monitoramento ocorreu após publicações de Loss no então Twitter (atual X). “A circunstância indica monitoramento contínuo em relação ao servidor público por questões de ordem política e em represálias ao exercício de seu cargo”, destaca a polícia federal.
A advogada Nicole Giamberardino Fabre foi alvo de 21 consultas, todas vinculadas à Operação Curitiba, que não apresenta detalhes.
Veja a lista completa dos investigados no DF pela Abin paralela (em ordem alfabética), segundo relatório da Polícia Federal:
- Ademar Lourenço Martins Rodrigues – Técnico em Comunicação Social na Defensoria Pública da União (DPU) e jornalista no Instituto Federal de Brasília (IFB)
- Chang Chung Yu Dorea- Professora da Universidade de Brasília (UnB)
- Elizândio de Aquino Marinho – Professor de educação básica do Governo do Distrito Federal
- Evandro de Araujo Paula – Assessor de imprensa, ex-secretário parlamentar da Deputada Federal Bia Kicis
- Hugo Ferreira Netto Loss – Analista Ambiental do IBAMA
- Uma servidora do TJDFT
- Maria Raquel Piraciaba Peixoto – Funcionária da Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal.
- Nicole Giamberardino Fabre – Advogada
- Sérgio Eduardo Soares Allen – Servidor da Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social do DF
- Simone Maria Barros Pimentel – Candidata a deputada distrital em 2022
- Tânia Povoa Lustosa – Analista legislativo aposentada do Senado Federal
- Thaís Lopes Rocha – Professora de História no Distrito Federal