Dois pés calçando um mocassim e meias brancas acionam os pedais de um carro no primeiro teaser que a Ford divulgou, no final de 2024. O vídeo é o anúncio, não só de uma versão inédita do Mustang GT Performance, mas de um esportivo com câmbio manual.
Os detalhes estavam ali, embora para muitos eles possam ter passado despercebidos. Entusiastas do automobilismo, no entanto, sabiam do que se tratava: aqueles pés ligeiros operando os pedais eram uma menção ao maior piloto que o Brasil já teve, Ayrton Senna.
A imagem fazia referência ao famoso vídeo de Senna testando um Honda NSX-R no circuito de Suzuka em 1992 e deixando a engenharia japonesa boquiaberta.
O piloto sugeriu melhorias e ajustes para carro em testes e o vídeo mostra a habilidade de Senna ao dominar com precisão os pedais de aceleração e embreagem em altíssima velocidade.
O câmbio manual, ainda que presente em veículos de entrada no Brasil, já é minoria. Nos últimos anos, modelos de transmissão automática, sem o pedal de embreagem, dominam o mercado.
Mas o câmbio manual ainda tem seus adeptos, principalmente entre aqueles que buscam maior controle do veículo, gostam de trocar de marcha “no tempo” certo e isso leva a uma conexão de motorista com a máquina, em uma experiência mais envolvente e esportiva.
Por exemplo, em situações específicas, como estradas sinuosas ou aclives, o câmbio manual facilita o uso eficiente do freio-motor e contribui para a segurança e durabilidade do sistema de freios.
A habilidade de dirigir um veículo manual também é vista como uma tradição e uma questão de habilidade para muitos entusiastas.

E, se o assunto é habilidade, vale lembrar que os mocassins, por mais demodês que pareçam, são os mais adequados (junto com as sapatilhas de corrida) para esse tipo de direção, porque são confortáveis, têm solas mais finas e dão maior sensibilidade ao toque do pedal. Vai discordar de Ayrton Senna?
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Salvem os manuais
Ao lançar a versão com pedal de embreagem, a Ford propagou a hashtag #savethemanuals numa bem-sucedida campanha de marketing que exaltava a experiência sensorial, a conexão visceral e a sensação de controle através do ronco do motor e das trocas de marcha, preservando a tradição diante das novas tecnologias na mobilidade.
No início de maio, a Ford abriu as vendas da que virou uma edição limitada de 200 unidades numeradas do Mustang GT Performance numa inédita fila prioritária: o direito de compra começaria valendo para donos de Mustang, depois para donos de modelos Ford e, por fim, ao público geral.
A oferta não foi suficiente: em apenas 60 segundos, a Ford esgotou todas as 200 unidades do seu muscle car ainda mais raiz.

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Manuais: restritos a modelos de nicho
O câmbio manual foi predominante no Brasil até a primeira década dos anos 2000, mas com a evolução e maior escala de produção, os automáticos passaram a ser mais populares devido à praticidade e conforto, atualmente representando mais de 70% dos carros novos vendidos.
Ainda assim, alguns motoristas, especialmente entusiastas de veículos esportivos, preferem o controle manual. Outra defesa pelas trocas de marchas é o consumo 10% mais eficiente do que os modelos automáticos.
De qualquer forma, dificilmente o manual volta a dominar, principalmente por causa do avanço dos modelos eletrificados (híbridos e elétricos) que utilizam transmissões diretas (com o motor conectado diretamente às rodas), ou seja, o automático é um caminho sem volta.
Os modelos com câmbio manual vão se restringir, ainda por um tempo, aos carros de entrada e mais acessíveis, e aos esportivos, estes sim, dotados de muita tecnologia a favor da performance, e os quais a troca de marcha faz toda a diferença. E, quando eles surgirem, certamente entrarão na wishlist dos iniciados.
Caso dos japoneses superesportivos e de uma versão do Porsche 911.

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Confira a seguir os detalhes de quatro cobiçados esportivos mais recentes que vieram equipados com a caixa de transmissão manual.
Mustang Manual tem função Flat Shift
A edição limitada do Mustang destaca sua esportividade por meio de uma transmissão manual de seis marchas. A versão atende aos entusiastas que apreciam a conexão direta com o carro e o controle preciso. Cada unidade é uma peça de colecionador, com placa numerada e preço de R$ 600 mil.

A edição especial do Mustang apresenta um design exclusivo com detalhes em bronze, incluindo badges, logotipos e um emblema comemorativo de 60 anos. O visual é destacado por faixas decorativas, rodas de liga leve de 19″ na dianteira e 19,5″ na traseira também com acabamento bronze, pinças de freio vermelhas e pneus mais largos atrás. Os clientes podem escolher entre três cores de carroceria: cinza Torres, preto Astúrias e branco Oxford.

O motor Coyote V8 de 5 litros do Mustang foi aprimorado, agora com 492 cv de potência a 7.250 rpm e torque de 58 kgfm a 4.900 rpm, com 80% dessa força disponível já em baixas rotações.
Ele resulta numa aceleração de 0 a 100 km/h em 4,3 segundos com transmissão manual de seis marchas, com a função Flat Shift, que permite trocas de marcha sem desacelerar, otimizando o desempenho esportivo.

O Mustang GT Performance Manual possui cinco modos de condução (Normal, Esportivo, Escorregadio, Pista e Pista Drag), que ajustam vários parâmetros do veículo para melhorar a experiência de acordo com as condições.
O interior combina tecnologia e conforto, destacando bancos Recaro para suporte esportivo e um emblema numerado que reforça sua exclusividade.

O painel digital de 12,4” e o sistema multimídia Sync 4 com tela de 13,2” oferecem conectividade avançada, incluindo carregador por indução, comando de voz e entradas USB. O sistema de som Bang and Olufsen de 900W garante experiência sonora imersiva, complementado por recursos como GPS, ar-condicionado na tela, entrada e partida sem chave e volante aquecido.

Para segurança, o veículo possui sete airbags, alertas de colisão com detecção de pedestres, frenagem autônoma, assistente de manutenção em faixa, manobras evasivas, farol alto automático, monitoramento de ponto cego, piloto automático adaptativo, tráfego cruzado, reconhecimento de placas, câmera de ré e sensores traseiros.
Honda Civic Type R: o câmbio é só um detalhe
O esportivo de alta performance japonês é um carro de corrida adaptado para uso nas ruas, equipado com motor 2.0 turbo que rende 297 cv de potência e 42,8 kgfm de torque entre 2.600 e 3.500 rpm.

A transmissão manual de seis marchas conta com a tecnologia Rev-Match Control. Esse sistema sincroniza automaticamente a rotação do motor com a marcha desejada, proporcionando trocas suaves e evitando trancos, especialmente em reduções na condução esportiva, e conta com um mecanismo exclusivo do Type R para trocas mais precisas.

Seu comportamento dinâmico é reforçado por baixo centro de gravidade, suspensão firme e diferencial autoblocante, garantindo bom desempenho nas curvas.
O modelo acelera de 0 a 100 km/h em 5,4 segundos e tração dianteira e direção assistida elétrica progressiva com ajuste de rigidez conforme o modo de condução.

A suspensão, os freios e pneus são dimensionados para alta performance e as rodas são de 19 polegadas. O sistema de escape central possui saída tripla e válvula ativada, ajustando o som conforme o modo de condução, com ronco esportivo nos modos +R e Sport e mais silencioso no modo Comfort.
Possui ainda um pacote completo de tecnologias de segurança Honda Sensing, mas com uma calibração diferente. O objetivo nesse Civic é permitir uma condução esportiva sem tantas intervenções intrusivas e tecnologias de assistência à condução focadas em performance.

Por fora, o Type R tem design aerodinâmico com grade dianteira exclusiva, para-choques esportivos, saias laterais, aerofólio traseiro de grandes dimensões fixado em alumínio e difusor traseiro.

Internamente, dispõe de bancos esportivos de alta performance exclusivo Type R, revestidos em suede vermelho e preto com costuras vermelhas para proporcionar um ótimo suporte lateral. Além disso, os pedais são em alumínio, acabamento em detalhes vermelhos e pretos e placa numerada de identificação do modelo.

Apesar de ser um carro homologado para as ruas, seus acertos mais firmes e posição de dirigir mais rebaixada não o tornam ideal para rodar no trânsito no dia a dia.
O preço do “brinquedo”? R$ 429.900, sendo uma opção de carro esportivo de alto valor.
Toyota GR Corolla: tração herdada do Mundial de Rali
A versão hatch do modelo possui um design próprio, esportivo no exterior e interior, e é diferente do sedã. A sigla GR indica a divisão Gazoo Racing da marca japonesa. Devido ao seu alto preço e ao fato de ser um nicho exclusivo, essa versão foi importada do Japão em apenas 30 unidades.

O GR Corolla oferece uma experiência de condução purista, com seu motor de três cilindros 1.6 turbo de 305 cv de potência e 37,7 kgfm de torque entre 3.000 e 5.500 rpm.

O câmbio manual de seis marchas com relações curtas e precisas foi projetado para engajamento máximo do motorista. A alavanca de câmbio tem um curso reduzido para trocas mais rápidas. Com tração integral, é o carro de produção em série com motor 1.6 turbo mais potente já fabricado, tornando-se uma peça rara e valorizada.
Com velocidade máxima de 230 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em 5,4 segundos, destaca-se ainda pela suspensão aprimorada, freios de alto desempenho, escape com válvula controlada e design aerodinâmico funcional voltado para estabilidade e downforce.

Seu sistema de tração integral GR-Four é um de seus grandes diferenciais: desenvolvido no Campeonato Mundial de Rali (WRC) ele permite ajustar eletronicamente a distribuição de torque entre os eixos dianteiro e traseiro em três modos, otimizando o desempenho em diferentes condições.
O cockpit esportivo inclui painel digital de 12,3”, volante esportivo revestido em couro e bancos dianteiros com suporte lateral e revestidos em material premium com detalhes vermelhos e logotipo GR. Os pedais em alumínio e a alavanca de câmbio ergonômica complementam o visual esportivo.

Na parte de multimídia, há uma tela touchscreen de 8”, sistema de som JBL de alta qualidade, navegador GPS e teto solar elétrico.

Por aqui, apenas 99 unidades foram trazidas em duas versões do Toyota GR Corolla. A HB Core é a versão “básica”, por R$ 416.990 e que prioriza a experiência de pilotagem com itens de segurança e performance.

Já a HB Circuit, importada num seleto lote de 30 unidades, custa R$ 461.990. Essa versão mais invocada, possui elementos visuais exclusivos, como o teto de fibra de carbono que melhora peso e centro de gravidade, e as rodas BBS forjadas no pacote High Grade, além de itens adicionais de conveniência e segurança.
Porsche 911: experiência aprimorada
A nova geração do Porsche 911 que acaba de chegar ao Brasil apresenta melhorias como maior potência, melhor aerodinâmica, interior renovado, equipamentos de série ampliados, avanços em conectividade e detalhes de design que evidenciam a evolução do icônico esportivo da marca de Stuttgart.

De oito opções à venda, duas são manuais: o 911 Carrera T Coupé por R$ 980.000 e o 911 Carrera T Cabriolet, a R$ 1.040.000.

O 911 Carrera T vem equipado com motor boxer biturbo de seis cilindros e três litros, que gera 394 cv e 45,8 kgfm de torque. A transmissão manual de seis marchas envia a potência ao eixo traseiro, com uma função de aceleração intermediária (auto-blip) que ajusta automaticamente as mudanças de marcha, facilitando a troca de marcha e evitando o “punta-taco” (técnica de pilotagem a qual se usa a ponta do pé para frear e, simultaneamente, o calcanhar ou a lateral do mesmo pé para acelerar).

O esportivo também recebeu redução de peso e ajustes dinâmicos para torná-lo um Carrera com prazer de condução para os puristas.
O Porsche Carrera T Coupé, equipado com o Pacote Sport Chrono padrão, acelera de 0 a 100 km/h em 4,5 segundos e alcança uma velocidade máxima de 295 km/h, enquanto a versão Cabriolet faz isso em 4,7 segundos e atinge 293 km/h. O sistema de escape esportivo, aliado ao isolamento reduzido do interior e à função auto-blip, oferece uma sonoridade emocionante.
O 911 Carrera T também estreia com eixo traseiro direcional e relação de direção mais direta, melhorando a dirigibilidade, a resposta da direção e a estabilidade, com um ajuste exclusivo para esse modelo.
A suspensão esportiva adaptativa do 911 Carrera T foi rebaixada em 10 mm e recebeu um ajuste esportivo específico, aprimorando a dirigibilidade do modelo. O carro conta com rodas de liga leve de 20/21 polegadas e pneus 245/35 ZR20 na dianteira e 305/30 ZR21 na traseira.

O Carrera T destaca-se por recursos exclusivos, como um adesivo com o logotipo do padrão de troca de marchas nas janelas traseiras triangulares, indicando seu câmbio manual de série.
As inscrições “911 Carrera T” na parte traseira estão em cinza Vanádio, assim como detalhes nas grades, acabamentos dos espelhos externos e rodas de liga leve polidas na mesma cor metálica. Além disso, o modelo possui um lábio do spoiler aerodinâmico, inspirado no 911 Carrera GTS.

O interior do Porsche 911 Carrera T apresenta um visual esportivo e purista, com detalhes como uma costura contrastante e um cronômetro no Pacote Sport Chrono padrão.
Os assentos esportivos pretos, ajustáveis eletricamente, têm centros em Sport-Tex e são personalizados com o padrão de tecido xadrez exclusivo do modelo, além de bordados do logotipo 911 nos apoios de cabeça. Opções adicionais incluem assentos esportivos adaptativos Plus ou assentos bucket leves.

Elementos que reforçam sua exclusividade incluem uma alavanca de câmbio encurtada com pomo de madeira laminada de nozes e o logotipo ‘MT’ indicando transmissão manual. Diferenciais importantes para ostentar sua esportividade.
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