Quando subir ao palco do Teatro Celso Furtado, em São Paulo, Jesus “Aguaje” Ramos já terá completado 15 dos 23 shows programados para o Brasil. Em muitos deles, os ingressos disputados lotaram auditórios. Em todos, a Buena Vista Orchestra transformou o país em uma espécie de Havana dos anos 1940.
Aguaje é maestro, trombonista, diretor artístico e compositor do grupo original do Buena Vista Social Club — o coletivo que fez o mundo voltar seus ouvidos aos ritmos cubanos em 1997, vendeu mais de cinquenta milhões de cópias e rendeu a Wim Wenders o Oscar de Melhor Documentário no ano 2000.

Hoje, quase três décadas depois, o fascínio pelo legado do grupo permanece. O vinil original do projeto raramente é encontrado por menos de R$ 500 em lojas brasileiras. Fãs, novatos e veteranos, parecem igualmente determinados a celebrar o coletivo e a música pré-revolucionária da ilha caribenha como um todo — uma missão que agora recai sobre a orquestra.
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“Para nós da Buena Vista Orchestra, é uma continuidade do trabalho que começou com o Buena Vista Social Club, que por sua vez nasceu da visão de outros artistas. É a preservação do legado da música cubana — uma música internacional, mas feita por cubanos”, resume Aguaje, em entrevista por videochamada direto de Recife.

Ao lado de Luis “Betun” Mariano Valiente Marin (congas e bongô), Emilio Senon Morales Ruiz (piano) e Fabián Garcia (baixo), Aguaje integra a base veterana da nova formação, que conta com mais dez músicos, incluindo a cantora Geidy Chapman e sua filha, Lorena Lázara — cuja performance tem sido descrita como igualmente excepcional.
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A música dos criadores
A todo momento, o maestro faz questão de reforçar o legado e a continuidade na essência do trabalho da Buena Vista Orchestra. Se hoje a orquestra faz sucesso em palcos brasileiros, é porque antes vieram os veteranos do Social Club.
“Temos Rubén González, Cachaíto López, Ibrahim Ferrer, Roberto el Millonario e outras lendas que não estão mais conosco”, relembra Aguaje. “São lendas da música cubana, mas também da música global, da boa música. E essa orquestra leva esse aprendizado: o de que a boa música cubana é, na verdade, a boa música — que nós tocamos, preservamos e cuidamos para o mundo.”
Para o músico, o objetivo do coletivo hoje passa pela manutenção e pela valorização dos ritmos originais da ilha. Menos interessados na criação de canções inovadoras, o que eles querem é justamente “tocar a música como ela foi feita”.
“O cha cha cha como criou Enrique Jorrín, o mambo como o de Perez Prado, o danzón como o de Miguel Failde — a música dos criadores”, diz Aguaje.
Brasil, ritmos e afinidades
Ao falar do Brasil, Aguaje reforça a afinidade entre os dois países. “Vocês têm a bossa nova, por exemplo, que, assim como a música cubana, não ficou restrita às fronteiras. A influência africana está em ambas, e o samba é um fascínio à parte”, comenta.
Apesar da admiração, ele confessa que talvez não consiga visitar uma escola de samba nesta passagem. A agenda é apertada: depois de São Paulo, onde se apresenta nos dias 19 e 20 de abril, o grupo segue para Curitiba (22), Florianópolis (23), Porto Alegre (24), Brasília (27) e Goiânia (26 e 28).

No palco, tradição em alta
No repertório, a orquestra equilibra a performance bem ensaiada com momentos de improviso — sempre com foco nos clássicos cubanos. Em João Pessoa, por exemplo, o grupo homenageou a tradição com “Quizás, quizás, quizás”, “Bésame mucho”, “Dos gardenias” e dois sucessos de Compay Segundo: “Guantanamera” e, claro, “Chan Chan”, grande tema associado a Buena Vista.
“Gosto de dizer que o artista tem de tocar aquilo que o público quer ouvir. Por isso, não pode faltar ‘Cuarto de Tula’, ‘Camino a La Vereda’, ‘Veinte Años’… e ‘Chan Chan’, é claro.”

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