No dia 17 de abril, o mundo celebra o Malbec World Day, uma homenagem à uva de origem francesa e alma argentina, que conquistou o paladar brasileiro e se tornou sinônimo de vinho encorpado, acessível e marcante.
Criada em 2011 pela Wines of Argentina (WofA), a data marca o momento histórico em 1853 quando o então presidente argentino Domingo Faustino Sarmiento propôs a transformação da viticultura no país — e entre as uvas escolhidas, estava ela, a Malbec.
Hoje, a Malbec representa não só uma casta de uva, mas também uma identidade nacional. Originária da França, mais precisamente da região de Cahors, a uva encontrou nos vales da Argentina — especialmente em Mendoza — solo fértil, altitude ideal e clima propício para desenvolver seu potencial máximo.
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“A Malbec pode ter passaporte francês, mas foi na Argentina que ela criou raízes e virou ícone”, afirma Elaine de Oliveira, sommelier da Association de la Sommellerie Internationale.
Uma gigante nas taças — e nos números
A importância econômica da Malbec também é clara. Hoje, como apontam dados do Wines of Argentina (WofA) e do Instituto Nacional de Vitivinicultura (INV), o país conta com 46,9 mil hectares dedicados à uva — cerca de 25% de toda a área de viticultura nacional e 41,5% da área de uvas tintas.
Desde 2010, a plantação cresceu 195%. Em 2024, segundo o INV, a Argentina exportou 121 milhões de litros de vinho Malbec, representando 69,3% de todo o volume de vinhos vendidos ao exterior — o equivalente a US$ 410,5 milhões.
No Brasil, o sucesso é incontestável. A uva é, há anos, uma das preferidas do consumidor nacional. Dados da Wine Intelligence apontam que entre 2021 e 2023, a Malbec foi a variedade com maior crescimento no Brasil, com aumento de 48% entre os consumidores regulares de vinho, que hoje somam mais de 44 milhões de brasileiros.
Ainda segundo a entidade, 89% dos brasileiros preferem vinhos tintos, sendo o Malbec um dos favoritos.
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Por que o Brasil ama a Malbec?
A popularidade da Malbec no Brasil se deve a uma combinação de fatores: ampla oferta de rótulos, perfil sensorial amigável, bom custo-benefício e adaptação à culinária nacional.
“É um vinho fácil de beber. Normalmente macio, redondo, com taninos suaves e boa estrutura. Isso agrada muito o consumidor brasileiro. Além disso, o teor alcoólico mais elevado é um fator de decisão para muitos”, explica Vinicius Santiago, Head Sommelier do Grupo Víssimo.
A proximidade geográfica e a vantagem tributária do Mercosul, que torna os vinhos argentinos mais acessíveis, também influenciam na reputação da uva em solo nacional. Sthephani Mercado, sommelière do Grupo Wine, ainda lembra que a cultura do churrasco, comum em ambos os países, também contribui para a popularidade da Malbec, já que suas características harmonizam perfeitamente com carnes grelhadas.
“E tem uma coisa: Malbec tem cara de churrasco, de mesa cheia, de conversa animada. Não é à toa que virou queridinha por aqui”, brinca Elaine de Oliveira.

A estrela do espetáculo
Apesar do reinado nas últimas décadas, alguns especialistas começam a questionar se a Malbec ainda deve ser a principal estrela da vitivinicultura argentina. Uma matéria recente da The Drinks Business apontou que outras variedades — como Cabernet Franc, Bonarda e Pinot Noir — estão ganhando terreno e atenção entre os consumidores e enólogos. Vinicius Santiago reconhece essa mudança:
“Hoje se fala em Malbec junto com Torrontés, Cabernet Franc… mas ela continua sendo a casta mais importante da Argentina, presente em praticamente todas as regiões do país.”
Carlos Huerta, head sommelier do BA’RA Hotel e do ORAMA Rooftop, cita justamente a versatilidade da uva a favor de sua popularidade: “a Malbec é uma uva com muitas caras, já que encontramos Malbecs estruturados e complexos em Mendoza e outros elegantes e frescos na Patagônia, por exemplo, além de alguns expressivos e generosos em Salta”.
Para Sthephani Mercado, a importância da Malbec permanece inquestionável. “Muito mais do que uma tendência, é um marco na identidade argentina e essencial para colocar o país no mapa mundial do vinho. Dizem que não foram os argentinos que escolheram a Malbec, mas que foi a Malbec que escolheu a Argentina”. Elaine de Oliveira completa: “pode até dividir um pouco os holofotes, mas continua sendo a estrela do espetáculo”.
Como identificar um bom Malbec?
Intenso, frutado e equilibrado. Quando o assunto é Malbec, há uma série de características que ajudam a identificar um bom exemplar — e para além do rótulo ou da região de origem, a experiência sensorial é o que determina sua qualidade, que deve harmonizar potência e elegância.
“Um bom Malbec te convida para o gole seguinte sem fazer esforço. Corpo, estrutura, mas sem exagero”, explica Elaine de Oliveira.
“No paladar, o equilíbrio é a chave: taninos bem presentes, porém aveludados, acidez equilibrada, persistência e presença”, lembra Sthephani Mercado, que também destaca a coloração, que deve ser profunda e intensa, variando do violeta escuro ao púrpura quase opaco.
“É uma uva com características intensas, que produz um vinho intenso. Por isso, recomendo buscar rótulos com passagem por madeira, que equilibram essa força, ou um envelhecido, que ameniza a pujança”, orienta Isaac Azar, sommelier do La Cave du Roy. “Um bom Malbec entrega muita estrutura e muito equilíbrio. É o que se espera da uva: vinhos encorpados, porém macios”, finaliza Gustavo Giacchero, sommelier da Wine Trader e do Fasano Belo Horizonte.
Para saborear com estilo, recomendamos a seguir 10 rótulos para apreciar um bom Malbec.
Nieto Senetiner Single Vineyard Villa Blanca Estate Malbec 2018
Favorito de Vinicius Santiago, é um Malbec macio e harmônico proveniente dos centenários vinhedos de Vistalba, em Luján de Cuyo, província de Mendoza. Oferece boa acidez, que confere frescura e sabor longo e persistente. No olfato, traz notas de frutas negras e especiarias. Harmoniza com carne de cordeiro, lasanha com queijos e cogumelos. Preço: R$ 458,92 na Grand Cru

Zuccardi Apelación Malbec 2022
Da região do Vale do Uco, este Malbec é um dos favoritos de Gustavo Giacchero. “Funciona bem com uma boa parrilla ou em um churrasco, como se espera de um Malbec”, diz o sommelier. Com taninos macios e boa acidez natural, seu aroma inspira frutas vermelhas, chocolate, licor e especiarias. Preço: R$ 109,90 na Wine Trader

Zuccardi Piedra Infinita 2016
A indicação de Issac Azar é a safra de 2016 do Piedra Infinita da Vinha Zuccardi. De paladar intenso e estrutura suave, tem caráter olfativo frutado com notas de frutas vermelhas. Harmoniza com carnes vermelhas grelhadas ou assadas, como bife de chorizo e costela de boi. “Um vinho realmente excepcional”, destaca o sommelier. Preço: R$ 2.342,52 na Grand Cru

Malbec Carmelo Patti
“Rústico e elegante ao mesmo tempo”, é como descreve Elaine de Oliveira este Malbec, que leva a assinatura do enólogo argentino Carmelo Patti. De coloração rubi, revela no olfato aromas de frutas vermelhas e notas mentoladas. No paladar, equilibra a intensidade com taninos suaves. Harmoniza com queijos e carnes vermelhas, como a de cordeiro. Preço: R$ 189 na DiVinho

Colome Lote Especial Malbec
Outra indicação de Elaine de Oliveira é o Colome Lote Especial. Produzido em altitude extrema no norte da Argentina, este Malbec entrega frescor e vivacidade. As notas achocolatadas e de baunilha se destacam junto aos tons terrosos e taninos bem integrados. Preço: R$ 410 na Mais Vinho

Zuccardi Los Olivos Malbec 2023
Perfeito para momentos descontraídos, o Zuccardi Los Olivos apresenta aroma de frutas pretas e vermelhas com toques de especiarias. No paladar, é cheio de taninos redondos, boa acidez e persistência. Harmoniza com carnes vermelhas, pizzas e massas de molho vermelho. Preço: R$135,92 na Evino

Susana Balbo Signature Malbec
Assinatura da vinícola argentina Susana Balbo, este Malbec une notas de especiarias e chocolate a toques amadeirados. Com taninos elegantes e boa acidez, apresenta final longo e aveludado. “Puro equilíbrio, estilo e delicadeza”, afirma Elaine de Oliveira. Preço: R$ 161 na Via Vini

Alae Malbec 2018
Produzido em edição limitada de dez mil exemplares, este Malbec é parte da linha premium da vinícola argentina Viña Las Perdices. Um vinho imponente que traz um perfil frutado aliado ao paladar encorpado com taninos maduros e frescor moderado. Harmoniza com carnes vermelhas, molhos mais intensos ou à base de tomate, queijos e especiarias. Preço: R$ 479,90 na Wine

This is Not Another Lovely Malbec
Desenvolvido por Matías Riccitelli, e distribuído no Brasil pela Berkmann Wine Cellars, esse não é apenas outro Malbec adorável. De fato, ele é fermentado a partir de 50% de cachos inteiros e 50% de cachos desengaçados, que resulta em uma releitura leve e criativa, ideal até para os dias mais quentes. Preço: R$ 69,74 na Cia do Vinho

Yacochuya Malbec 2016
Proveniente da região de Salta, com vinhedos a mais de 2000 m.s.n.m., e assinado pelo enólogo francês Michel Rolland, é um vinho profundo, complexo, de aroma frutado intenso, boa tipicidade, notas de especiarias, acidez equilibrada e com final persistente. “É toda uma experiência”, indica Carlos Huerta. Preço: a partir de R$ 632,33 na Grand Cru

Foto: Reprodução Grand Cru
* Com irormações de Wine International Association (WIA), Wines of Argentina (WofA), The Drinks Business, Wine-Searcher e Forbes.
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