Se houve um tempo em que os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) do Banco Master pagavam 140% do CDI e eram vistos como uma oportunidade de ouro, esses dias parecem ter ficado para trás.
Hoje, títulos do banco e das suas subsidiárias são negociados no mercado secundário a taxas que chegam a 160% do CDI, e mesmo assim estão com dificuldades de encontrar investidores interessados.
Esses títulos chegaram ao mercado movidos por uma onda de resgates antecipados dos CDBs do Banco Master, do Banco Master de Investimentos, do Will Bank e do Voiter — todas instituições pertencentes ao grupo.
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O anseio por vender os papéis é tão grande que esses investidores estão aceitando absorver prejuízos da ordem de 15% a 20% do valor que pagaram pelos títulos no momento de compra, segundo fontes ouvidas pelo Seu Dinheiro.
Nas maiores plataformas de investimentos, da XP e do BTG, é possível encontrar ofertas com taxas muito acima da média do mercado. CDB Voiter pagando 160% do CDI com vencimento em maio de 2025; CDB Will Financeira com taxa prefixada de 21,50% e vencimento em outubro; ou CDB Master, para outubro, pagando IPCA+ 17,10%.
Rodrigo Azevedo, economista e sócio-fundador da GT Capital, vê duas possíveis explicações para o movimento.
A primeira é um movimento de readequação dos investidores para não ultrapassar o teto de reembolso do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) em caso de insolvência do Master. “[Os investidores] estão saindo com um forte deságio para se adequar ao FGC e ficar, de certa forma, mais protegidos do que estão nesse momento de incerteza sobre a venda do banco”, diz Azevedo.
O FGC garante uma cobertura de até R$ 250 mil por CPF em cada instituição financeira emissora de títulos como os CDBs, valor que inclui principal e rendimentos. Acima desse valor, a entidade privada não cobre o prejuízo do cliente.
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Sendo assim, pessoas físicas com posições acima do teto em títulos das diferentes instituições do grupo Master estariam vendendo seus papéis antes do vencimento, de forma a não ultrapassar o limite, absorvendo o prejuízo do desconto para garantir os R$ 250 mil de proteção.
A outra hipótese do economista é um cenário de aversão ao risco mesmo, com investidores querendo se desfazer dos papéis em meio às notícias de dificuldades financeiras do banco. É o caso de investidores mais conservadores, que não querem manter os CDBs mesmo com valores investidos dentro da faixa de proteção do FGC.
O volume no mercado secundário é alto, em títulos de curto e médio prazo. Na plataforma da XP é possível encontrar CDBs do Will Bank, com vencimento para 2029 e taxas de 130% do CDI, com um estoque de mais de 70 papéis.
Na semana passada, o Master anunciou que novas emissões de CDBs teriam redução de taxas. Os títulos prefixados viram uma queda de 0,3 ponto percentual nas suas taxas, enquanto os pós-fixados passaram por uma redução de até 3 p.p.
Os papéis continuam com rentabilidade acima da média do mercado, entretanto, os especialistas não veem apetite do mercado para absorver esses títulos — não com o mercado secundário oferecendo taxas muito maiores para a mesma instituição.
Em outras palavras, do ponto de vista de quem pensa em comprar, não faria sentido adquirir um CDB “novo”, recém-emitido, diretamente do Master (mercado primário), se as remunerações para comprar com desconto de outro investidor que quis se desfazer do papel (mercado secundário) estão muito mais elevadas.
Por exemplo, na plataforma da XP, é possível encontrar um CDB do Master com vencimento para 2029 oferecendo 112% do CDI no mercado primário, sendo que no secundário você consegue comprar um título que vence no mesmo ano pagando 130% do CDI.
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CDBs do Banco Master não vão ser pagos?
O balanço do Banco Master, divulgado na última semana, mostrou que a instituição tem R$ 16 bilhões em CDBs a vencer neste ano — sendo R$ 7,6 bilhões ainda no primeiro semestre.
O problema é que a maior parte dos ativos do Master estão presos em investimentos de longo prazo, como precatórios (dívidas públicas da União, Estados e Municípios, que dependem de decisão judicial), fundos multimercados e direitos creditórios.
“Sempre houve uma percepção no mercado de que as operações do Master eram mais arriscadas, por isso pagava taxas maiores. Porém, sempre foi um risco mais associado à liquidez, não um risco associado a fraudes”, diz o sócio de um escritório de investimentos com R$ 2 bilhões sob gestão, que não quis se identificar.
“Mas agora, com essa especulação em cima dos títulos, fica insustentável. Resgates sucessivos em um banco com dificuldade de liquidez é um problema. Agora, eles precisam de uma solução definitiva, não dá mais para voltar atrás e simplesmente ninguém comprar”, afirma o sócio.
Para quem está dentro do limite de cobertura do FGC, os riscos são menores. Quer a compra do Master saia, quer não, os CPF e CNPJs com exposição aos títulos serão ressarcidos — valor investido + juros — até o total de R$ 250 mil.
Valores acima desse teto serão absorvidos como prejuízo.
As fontes ouvidas pelo Seu Dinheiro afirmam que, até o momento, o Master segue pagando normalmente a remuneração dos seus títulos.
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Sendo assim, o recomendado é se atentar ao teto do FGC para um eventual cenário de problemas de liquidez do banco no futuro, enquanto as negociações seguem em andamento.
“Quem está dentro do limite do FGC, não venda”, indicam as fontes, já que o investimento será pago de uma forma ou de outra. “Quem está acima do limite, vende até o teto”.
Já para quem está pensando em comprar no secundário, porque as taxas estão atrativas e tem limite no FGC para garantir o pagamento, a recomendação é não comprar: “Não entre agora. Espere uma maior clareza de informações de futuro mesmo que isso impacte não conseguir uma taxa tão alta”, diz Azevedo, da GT Capital.
BRB vs. BTG: quem vai comprar o Master?
No último final de semana, o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, teria realizado uma reunião extraordinária com banqueiros das principais instituições financeiras do país para discutir a operação, segundo informações do Estadão Conteúdo.
Três propostas estariam em análise: a compra pelo Banco de Brasília (BRB), que já tinha sido noticiada, uma operação envolvendo o BTG Pactual e uma alternativa com o uso de uma linha emergencial do FGC.
A primeira proposta já é conhecida no mercado: o BRB compraria 49% das ações ordinárias (que têm direito a voto) e 100% das preferenciais do Banco Master — o que daria ao banco estatal do Distrito Federal 60% do capital total.
Neste cenário, entretanto, o Banco de Brasília assume apenas uma parte do passivo de CDBs do Master, totalizando R$ 29 bilhões. Outros R$ 23 bilhões ficam de fora, sob responsabilidade do Master, que buscaria liquidez por meio da atuação conjunta com o BRB.
Este cenário não conta com a possibilidade de acionar imediatamente o FGC, uma vez que o BRB afirma ter condições de prover fôlego à atuação do Master após compra.
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A primeira alternativa é o BTG assumir a segunda fatia do Master, que não seria adquirida pelo BRB, particularmente, os precatórios.
Na terceira hipótese, o BTG avançaria na compra sozinho, assumindo ativos como os precatórios e a operação de crédito consignado no Credcesta (linha para servidores públicos). Já os passivos ficariam por conta do FGC, que seria acionado de forma emergencial.
Este último caso, entretanto, exige a anuência dos demais grandes bancos do país, já que o FGC é mantido pelas principais instituições financeiras brasileiras. O fundo detém 0,01% dos depósitos bancários dessas instituições.
O Estadão Conteúdo afirmou que os controladores de Itaú, Bradesco e Santander fizeram chegar ao governo federal a mensagem de que aceitam a solução por meio do BRB. Entretanto, o BC não estaria 100% satisfeito com essa possibilidade, com objeções em relação ao valor do negócio — o maior para o setor nos últimos anos — e aos ativos “problemáticos” que podem prejudicar a classificação de risco do banco estatal.
As agências de classificação de risco S&P Global, Moody’s e Fitch colocaram o rating do Banco de Brasília em revisão, enquanto a Moody’s retirou sua cobertura do Master dias antes do anúncio da possível compra.
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