Estamos atravessando uma semana carregada de tensão, com movimentações de política monetária se acumulando no radar. Ao longo dos próximos dias, pelo menos cinco grandes bancos centrais — Brasil, EUA, Reino Unido, Japão e China — tomarão suas respectivas decisões de juros, cada um lidando com desafios próprios.
O cenário é um teste de fogo para os mercados, que já precificaram boa parte das decisões, mas ainda precisam decifrar os sinais deixados no discurso das autoridades monetárias.
O tom da comunicação que acompanha a decisão de juros é especialmente verdade para o Brasil e os EUA.
Lá fora, o Federal Reserve deve manter os juros inalterados, reforçando a narrativa de que a inflação segue sob controle, mas que cortes na taxa básica só virão com dados econômicos mais fracos.
Já por aqui, o Banco Central pode, pela primeira vez, dar sinais mais explícitos de que o ciclo de alta da Selic está chegando ao fim — embora isso não signifique que novos aumentos estejam descartados, apenas que o ritmo do aperto tende a ser mais contido e a taxa terminal menor do que se temia antes.
Para nós, os sinais de desaceleração da atividade são cada vez mais evidentes.
Os três últimos indicadores de atividade divulgados na semana passada vieram abaixo das expectativas, reforçando a tese de que o aperto monetário já está cobrando seu preço.
A combinação de crédito mais caro, desaceleração no consumo e sinais de esgotamento do modelo de crescimento do governo tem se refletido nos dados.
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O que isso muda para os juros?
A perspectiva de um fim do aperto monetário começa a abrir espaço, ainda que de forma incipiente, para uma conversa sobre corte de juros — algo que os mercados já começaram a antecipar.
Esse alívio na percepção de política monetária, somado ao pacote de estímulos da China, ao potencial ganho relativo do Brasil com a guerra comercial de Donald Trump (já que outros países podem redirecionar suas compras para produtos brasileiros para evitar tarifas dos EUA) e à rotação regional global favorecendo mercados emergentes, ajudou a dar um respiro aos ativos locais.
Mas, como sempre, a imprevisibilidade política e econômica do Brasil segue sendo um fator de risco — e a Super Quarta promete reforçar essa volatilidade.
Depois de um 2024 desastroso para os ativos domésticos, 2025 já tinha boas chances de ser um ano mais forte quase por inércia — valuations excessivamente descontados, uma base comparativa extremamente baixa e um posicionamento técnico favorável criavam as condições para uma recuperação.
Até o câmbio embarcou na onda. O dólar fechou a segunda-feira abaixo de R$ 5,70, enquanto as apostas estrangeiras contra o real recuaram para o menor patamar em mais de um ano e meio.
O problema, como sempre, é Brasília.
O estresse político por conta da inflação já é evidente — e com razão. Os preços ao produtor dispararam 9,69% na base anual, marcando a maior alta desde setembro de 2022 e deixando claro que a pressão inflacionária sobre o consumidor ainda está longe de ser contida.
E qual é a resposta do governo?
Exatamente a pior possível: dobrar a aposta em medidas populistas e paliativas. Em vez de atacar as causas estruturais da inflação, Lula segue tentando contornar a realidade com iniciativas que só aumentam as distorções.
O resultado?
Um cenário em que o governo pisa no acelerador da economia enquanto o Banco Central tenta manter o pé no freio monetário.
Esse descompasso gera um crescimento disfuncional, com um nível de inflação e de juros mais altos do que o necessário — um equilíbrio precário que só adia o ajuste inevitável.
Todos de olho em Gabriel Galípolo
Vale lembrar que a Super Quarta também marca um ponto de inflexão: será a primeira grande sinalização de um Banco Central comandado por Gabriel Galípolo.
Desde sua posse, o novo Copom, agora já com sete membros indicados por Lula, tem seguido a cartilha herdada de Roberto Campos Neto.
A dúvida que fica é: até quando?
O tom do comunicado desta semana pode dar pistas sobre o real grau de independência do BC e o quão comprometido ele está com a ancoragem das expectativas — ou se começaremos a ver sinais de uma inflexão na condução da política monetária.
A partir de agora, o jogo começa a ficar mais nebuloso.
Minha leitura é de que este novo Banco Central tem uma inclinação mais dovish (expansionista), mas a reunião será o verdadeiro teste de fogo. Se o comitê indicar um viés mais brando, o mercado começará a precificar um fim de ciclo mais próximo do que se imaginava.
Lá fora, o cenário é completamente diferente.
Após semanas de volatilidade gerada pelo caos tarifário de Donald Trump, os holofotes agora se voltam para o Federal Reserve.
A decisão desta semana deve manter os juros inalterados entre 4,25% e 4,50%, mas a comunicação será o que realmente importa.
Jerome Powell e os demais dirigentes já alertaram que a incerteza criada pela política comercial do presidente americano adiciona um novo elemento de preocupação ao cenário econômico.
Os cortes de juros nos EUA continuam na mesa para o segundo semestre, mas dependerão da evolução dos dados.
O mercado, por ora, precifica três cortes de 25 pontos-base este ano, mas isso pode mudar dependendo das projeções que serão divulgadas junto da decisão.
Olhos atentos às estimativas de inflação, mercado de trabalho, PIB e, principalmente, à trajetória esperada para os juros até 2027.
Caminhos diferentes para os juros
Resumidamente, portanto, o Brasil, o BC deve elevar os juros mais uma vez e sinalizar se pretende reduzir o ritmo do aperto — ainda estamos distantes do debate sobre cortes por aqui, mas esse momento chegará.
Já nos EUA, o Fed seguirá com um discurso mais rígido, mas pode acabar frustrando parte do mercado caso suas projeções não reforcem a expectativa de afrouxamento no segundo semestre.
Na conjuntura atual, sem uma recessão de fato e apenas uma desaceleração moderada, o mercado segue nutrindo aquela velha ilusão de cortes de juros – tanto aqui, mais adiante, quanto nos EUA.
Mas desejar não é o mesmo que garantir, e a realidade pode ser bem menos generosa do que os otimistas gostariam de acreditar.
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