São Paulo — A Polícia Civil encerrou, nesta sexta-feira (14/3), o inquérito policial que investigava a execução de Vinícius Gritzbach, morto a tiros quando desembarcava no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guaruhos, no dia 8 de novembro.
Em uma coletiva de imprensa, realizada 126 dias após o início das investigações, na sede do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), no centro da capital paulista, os responsáveis pela apuração do caso afirmaram que, enfim, juntaram “provas robustas” que detalham o envolvimento de cada suspeito no crime, individualizando as condutas. Ao todo, a polícia pediu a conversão da prisão temporária em preventiva para oito pessoas. Seis pelo homicídio de Gritzbach e duas por favorecimento pessoas, auxiliando na fuga dos criminosos.
“As investigações chegam ao final nesta etapa. O inquérito traz provas técnicas robustas para que possamos amparar o Ministério Público em sua denúncia. Nós daremos continuidade ainda a demais investigações e eventuais participações de outras pessoas”, afirmou o delegado-geral da Polícia Civil, Artur Dian.
No total o inquérito possui cerca de 20 mil páginas e é o produto de uma análise de 6 terabytes de arquivos, que incluem imagens, áudios e demais informações obtidas com quebras de sigilo e buscas realizadas pela Justiça.
A diretora do DHPP, Ivalda Aleixo, afirmou que o acesso ao material recolhido foi restrito durante as investigações. “O material foi visto, revisto, discutido em uma sala isolada. Contamos com uma força-tarefa com um trabalho de campo vasto durante esses meses”.
Apesar do encerramento da investigação, outros três inquéritos policiais ocorrem paralelamente para apurar, entre outras informações, o motivo que levou Gritzbach a buscar joias avaliadas em R$ 2 milhões, em Alagoas, no dia de sua morte e o possível envolvimento de outras pessoas no fornecimento de informações antes e depois do crime.
Mandantes do crime
Segundo a força-tarefa da Secretaria da Segurança Pública (SSP) que apurou o caso, a execução de Gritzbach foi ordenada por Emílio Carlos Gongorra, o “Cigarreiro” que contou com a ajuda de Diego Amaral, conhecido como “Didi” no planejamento.
Os dois teriam orquestrado o crime como uma forma de vingar a morte de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, e Antônio Corona Neto, o Sem Sangue. Gritzbach é apontado como o responsável pelas mortes de ambos.
Cigarreiro e Didi eram amigos pessoais de Cara Preta e parceiros de negócio. Didi, inclusive, estava em um carro com Cara Preta minutos antes do parceiro ser assassinado, em 2022, de acordo com as autoridades.
“A gente tem provas técnicas de que eles são os mandantes do crime, temos extração de nuvem, mensagens, há diálogos falando que a motivação seria uma vingança”, afirmou a delegada Luciana Peixoto, do DHPP.
Além da vingança, Gritzbach também foi morto por começar a delatar esquemas do Primeiro Comando da Capital (PCC) ao Ministério Público de São Paulo (MPSP).
Todos do trio indiciado tiveram a prisão preventiva requerida pela polícia e estão foragidos. Além deles, Kauê do Amaral Coelho também está foragido após ser apontado como um olheiro que estava presente no aeroporto e avisou os executores sobre os passos de Gritzbach no local.
Ainda não há informações precisas sobre o paradeiro dos três indiciados, mas a polícia acredita que todos estão em uma comunidade do Rio de Janeiro.
Policiais militares presos
Três policiais militares foram presos por serem os executores de Gritzbach. São eles o cabo Dênis Antônio Martins, o soldado Ruan Silva Rodrigues – apontados como os assassinos do delator do PCC – e o tenente Fernando Genauro da Silva – motorista do carro usado na fuga dos mandantes. Todos eles estão presos no Presídio Militar Romão Gomes.
Os PMs foram indiciados por dois homicídios, duas tentativas de homicídio e por associação criminosa. Um taxista que esperava na área de desembarque foi baleado e morreu no local e outras duas pessoas foram feridas pelos disparos dos policiais militares.
Se condenados, a pena de cada um dos agentes pode ultrapassar os 100 anos de prisão. Eles são os únicos presos pela execução de Griztbach até o momento.
Além deles, policiais militares que foram contratados para fazer a escolta de Gritzbach no dia também estão sendo investigados.
Paralelo à investigação a respeito do assassinato do delator do PCC, a Polícia Federal (PF) conduziu um inquérito para investigar uma associação criminosa composta por policiais civis ligados ao PCC na lavagem de dinheiro, além de corrupção ativa e passiva. Até o momento, 26 suspeitos foram presos: 17 são policiais militares, cinco policiais civis e quatro pessoas relacionadas a Kauê, já citado anteriormente.
Denúncia do MPSP
A Justiça aceitou, em fevereiro deste ano, uma denúncia oferecida pelo Ministério Público e tornou réus 12 pessoas, entre elas, oito policiais civis, empresários e um advogado.
Veja os denunciados
- Ademir Pereira de Andrade: empresário suspeito de ser operador financeiro do PCC foi denunciado por por organização criminosa e extorsão;
- Ahmed Hassan Saleh: conhecido como Mude, o advogado foi denunciado por organização criminosa, lavagem de dinheiro e tráfico de drogas;
- Eduardo Lopes Monteiro: investigador da Polícia Civil foi denunciado por organização criminosa, corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro;
- Fabio Baena Martin: delegado da Polícia Civil foi denunciado por organização criminosa, peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro;
- Marcelo Marques de Souza: conhecido como Bombom, o investigador da Polícia Civil foi denunciado por organização criminosa e lavagem de dinheiro;
- Marcelo Roberto Ruggieri: conhecido como Xará, o investigador da Polícia Civil foi denunciado por organização criminosa e lavagem de dinheiro;
- Robinson Granger de Moura: conhecido como Molly, o empresário foi denunciado por organização criminosa e lavagem de dinheiro;
- Rogerio de Almeida Felicio: conhecido como Rogerinho, o policial civil foi denunciado por organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro;
- Alberto Pereira Matheus Junior: delegado da Polícia Civil foi denunciado por lavagem de dinheiro, associação criminosa e corrupção passiva;
- Danielle Bezerra dos Santos: esposa de Rogerinho e viúva de um gerente do PCC foi denunciada por organização criminosa e lavagem de dinheiro;
- Valdenir Paulo de Almeida: conhecido como Xixo, o policial civil foi denunciado por organização criminosa e corrupção passiva;
- Valmir Pinheiro: conhecido como Bolsonaro, o policial civil foi denunciado por organização criminosa.
Execução de Gritzbach
Vinícius Gritzbach foi executado no dia 8 de novembro no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Ele estava retornando de uma viagem que fez para Maceió, em Alagoas.
Em depoimento a namorada do executado, Maria Helena Paiva Antunes, afirmou que ouviu o companheiro no telefone no dia 5 e 6 de novembro falando com uma pessoa que lhe devia dinheiro. “Posteriormente, ele determinou que [o policial militar] Samuel [Tillvitz da Luz] e [o motorista] Danilo [Lima Silva] fossem a Maceió buscar algumas joias que seriam parte do pagamento dessa dívida.”
Voltando ao dia da execução, quando Gritzbach passava pela área de desembarque um carro parou no local, dois homens encapuzados desceram do veículo vestindo colete a prova de balas e portando fuzis.
Assim que o alvo se aproximou, os dois começaram a atirar. Foram 29 disparos, 10 atingiram Gritzbach, que morreu no local. Pelo menos um dos disparos acertou o rosto do empresário.
Além dele, um taxista também foi morto e outras duas pessoas foram feridas pelos disparos.
Veja o vídeo com o momento em que o empresário é atingido à queima roupa:
O caso foi investigado pelo DHPP, por meio de uma força-tarefa criada especialmente para a investigação.