Nos últimos 80 anos, a Europa construiu sua identidade apostando na prosperidade, na estabilidade e numa parceria estratégica com os Estados Unidos. Mas esse equilíbrio está balançando com uma nova realidade global: o presidente da maior economia do mundo está cada vez mais próximo da Rússia, deixando os aliados históricos dos EUA em alerta.
É por isso que os líderes europeus começam a repensar até que ponto vale a pena depender de Washington nesse cenário, e agora buscam mais autonomia e defesa.
Um deles é Friedrich Merz. Prestes a se tornar chanceler da Alemanha, Merz anunciou na segunda-feira (4) que vai tentar alterar a constituição para isentar os gastos com defesa e segurança dos limites de gastos fiscais para fazer “o que for preciso” para defender o país.
Para tanto, Merz precisa flexibilizar o “freio da dívida”, mecanismo visto como a âncora fiscal da Alemanha.
Os partidos de centro concordaram em lançar um fundo de 500 bilhões de euros (R$ 3,1 trilhões) para investir em setores prioritários como transporte, redes de energia e habitação.
“A Europa precisa fortalecer a defesa”, disse Friedrich Merz, líder da União Democrata Cristã da Alemanha. “As decisões necessárias, especialmente com relação ao orçamento federal, não podem mais ser adiadas após as escolhas recentes do governo americano.”
“Estamos contando que os Estados Unidos continuem honrando nossos compromissos de aliança no futuro”, disse Merz.
“Mas também sabemos que agora precisamos investir muito mais na defesa do nosso país e da nossa aliança.”
Há pouco mais de uma semana, a coalizão dos conservadores, formada pelos partidos União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU), levou as eleições gerais com cerca de 28,6% dos votos na Alemanha, atualmente a maior economia do bloco europeu.
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Alemanha responde à mudança política dos EUA
O anúncio do fundo acontece em meio a temores de que os EUA estejam perdendo o interesse na Europa e na manutenção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Logo depois de eleito, Merz defendeu que a Europa buscasse “independência” de Washington.
No último fim de semana, o presidente Donald Trump ordenou que o país desse uma pausa em toda a ajuda militar à Ucrânia.
A medida foi tomada depois que Trump mudou a postura de alinhamento dos EUA em relação ao país europeu, que vinha desde o início da guerra.
Antes disso, na semana passada, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, foi até os EUA para fechar um acordo em troca de algum tipo de apoio ou garantia de segurança contra a Rússia na guerra iniciada em fevereiro de 2022. Mas no fim, o acordo não saiu.
Após um bate-boca na Casa Branca e de os Estados Unidos suspenderem a ajuda militar à Ucrânia, Friedrich Merz disse que vai pressionar para que o pacote de ajuda de três bilhões de euros para a Ucrânia, que está travado no parlamento, seja aprovado o quanto antes.
As medidas anunciadas também acontecem pouco antes da cúpula da União Europeia, que acontece na próxima quinta-feira (6).
Na ocasião, os países do bloco vão discutir como responder à mudança na política externa dos EUA sob o governo de Donald Trump.
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*Com informações da Bloomberg Línea, g1 e Deutsche Welle
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