Os investidores brasileiros estão com o dedo no gatilho. Essa é a perspectiva do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o atual cenário econômico do país. Para ele, o “mercado está muito mais tenso, esperando notícias para se proteger e especular”, o que ele avalia como “parte do jogo”.
Haddad falou sobre os impactos do contexto internacional no Brasil e sobre a economia nacional durante o evento CEO Conference do BTG Pactual, que ocorreu nesta manhã (25).
O ministro enxerga que houve uma piora nas tensões nos últimos tempos e indica um culpado: o contexto geopolítico internacional. Sem mencionar nomes, Haddad criticou o governo dos Estados Unidos.
“Quando se vê uma turbulência na economia americana, com uma falta de previsibilidade em relação ao que as instituições econômicas vão fazer e com a dependência do mundo em relação a essas decisões, aumenta a tensão. E não é só no Brasil, está todo mundo tenso. A situação externa é muito desafiadora”, afirmou o ministro.
Desde que retornou à presidência, Donald Trump pressiona aliados políticos com imposição de tarifas, o que vem gerando preocupações em relação à inflação nos EUA e no resto do mundo.
Na visão do ministro, com o cenário internacional mais complexo, “algum escape do câmbio, em função do déficit de transações correntes, iria acontecer” no país.
“O Brasil teve um deslocamento maior em dezembro do que os outros países. Mas, neste ano, a situação vem se acomodando num patamar mais próximo dos nossos pares internacionais”, avalia.
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Haddad sobre reforma fiscal: “agenda não pode perder ímpeto”
Apesar das dificuldades para a economia do país, Haddad avalia que houve avanços, com destaque para a reforma tributária, que teve a regulamentação da primeira lei complementar sancionada em janeiro deste ano. Em discussão há 30 anos, a reforma tem o objetivo de simplificar a cobrança de impostos no país. O Seu Dinheiro explicou as mudanças aqui.
Para Haddad, a reforma tributária é um marco, mas ele também enxerga que o governo não deve parar por aí. “Eu acredito que a agenda fiscal não pode perder ímpeto. Com a mudança nas presidências das duas Casas [do Congresso Nacional], nós precisamos verificar quem vão ser os relatores das matérias, os presidentes das comissões e a disposição dos líderes da oposição e da situação para endereçar temas importantes”, prosseguiu Haddad.
De acordo com ele, a agenda de reformas estruturais está sendo tocada desde que o governo assumiu. “Tem muita coisa boa para votar, tem muita coisa boa para endereçar ao Congresso Nacional, e nós podemos entregar um país muito melhor”, disse.
Já em relação às renúncias fiscais, o ministro afirmou que teria zerado o déficit primário se a Medida Provisória 1202 tivesse sido aprovada na íntegra. O texto limita a compensação de créditos relativos a tributos acima de R$ 10 milhões, porém, durante o processo de tramitação, a legislação sofreu alterações.
Na visão de Haddad, caso a medida tivesse sido aprovada integralmente, o governo teria zerado o déficit primário, mesmo com os gastos após as enchentes no Rio Grande do Sul.
“Parcelaram a reoneração da folha, parcelaram o Perse, parcelaram tudo. Então, eu não consegui o superávit estrutural que teria conseguido, sem maquiagem”, afirmou.
Apesar disso, o ministro avalia que o Congresso aprovou muitas propostas do governo. “Não posso reclamar”, disse durante evento do BTG Pactual.
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Equilíbrio fiscal na mira de Haddad… e de Lula
O ministro da Fazenda ainda destacou a importância da transparência das contas públicas e que enxerga que ainda há condições de melhorias para a questão no país, com destaque para o orçamento federal.
“A verdadeira caixa-preta que existe no Brasil é o orçamento federal. Do ponto de vista de despesa, é menor, mas do ponto de vista de renúncia de receita é um escândalo”.
De acordo com o Demonstrativo de Gastos Tributários, o governo brasileiro vai deixar de arrecadar R$ 543,6 bilhões em 2025 por conta de benefícios tributários. Haddad afirmou que, ainda neste ano, a gestão atual vai divulgar todos os incentivos fiscais fornecidos ao setor privado.
Para ele, parte do problema do orçamento fiscal é o lobby feito por parte do setor empresarial. “O país podia ir muito mais longe, mas a questão não é só a classe política, há muito lobby também”, disse.
O ministro ainda reforçou o compromisso do presidente com o ajuste das contas públicas. Haddad revelou que Lula tem “obsessão” pelo equilíbrio fiscal, mas sem prejudicar os mais pobres.
“O presidente não fala ‘não faça superávit, não equilibre as contas’, como muitos acham. O que eu recebo de comando é para arrumar as contas sem fazer com que isso recaia sobre a parte mais fraca da sociedade”, disse Haddad.
“Eu não penso que seja um comando equivocado”, ressaltou ao defender o combate aos privilégios. Para ele, além do equilíbrio das contas públicas, é preciso combater a ineficiência, a desigualdade, além de aprovar reformas microeconômicas que melhorem o ambiente de crédito e a segurança jurídica.
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