A lua de mel entre investidores e o presidente da Argentina,Javier Milei, pode ter chegado ao fim – e o catalisador dessa reviravolta foi nada menos que um post na rede X sobre uma criptomoeda.
Depois de um ano em que o mercado apostou alto no presidente argentino, levando o índice de ações de Buenos Aires, S&P Merval, a uma valorização de 114,91% em dólares, a bolsa argentina amanheceu em queda nesta segunda-feira (17). E tudo começou com um apoio controverso de Milei a uma criptomoeda pouco conhecida: a Libra ($LIBRA), no final da última semana.
O estrago foi rápido. Em menos de 48 horas, mais de 100 pedidos de impeachment foram protocolados, segundo os jornais La Nación e Página 12.
O mercado reagiu no mesmo ritmo, o S&P Merval chegou a despencar quase 6% logo pela manhã e, por volta das 14h (horário de Brasília), acumulava queda de 4,46% – tudo isso em um dia sem negociações em Nova York.
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Uma recomendação ou um golpe?
Nos últimos meses, o mundo cripto se tornou um novo território de influência para políticos. Após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lançar sua própria memecoin, $TRUMP, não chega a ser surpresa que Milei, defensor do setor, tenha se aventurado nesse universo.
Inicialmente, muitos no mercado viram com bons olhos a aposta do presidente argentino na $LIBRA e em questão de horas, o token disparou mais de 90%, atingindo um valor de mercado da ordem de US$ 1,8 bilhão no ápice das negociações. O problema começou quando o frenesi se tornou frustração em um curto espaço de tempo.
A criptomoeda entrou em colapso em menos de um dia, e as acusações começaram a surgir. Estima-se que mais de 40 mil pessoas tenham sido prejudicadas por um suposto esquema de rug pull – quando um ativo é artificialmente inflado e depois despenca abruptamente, causando um prejuízo de mais de US$ 4 bilhões.
Em suas redes sociais Dave Portnoy, fundador do Barstool Sports, chamou o caso de “o maior rug pull de todos os tempos”.
Diante da confusão, Milei apagou sua postagem no X recomendando a criptomoeda e garantiu que não tem qualquer ligação com ela.
“Algumas horas atrás, postei um tweet, como fiz tantas outras vezes, apoiando uma suposta empresa privada com a qual obviamente não tenho nenhuma conexão. Eu não estava ciente dos detalhes do projeto e, depois de tomar conhecimento dele, decidi não continuar a divulgá-lo (por isso apaguei o tweet)”.
Mas as dúvidas continuaram a aumentar quando Hayden Mark Davis, fundador da plataforma de investimentos Kelsier e cofundador da $LIBRA, se pronunciou sobre o tema e disse ser assessor do presidente argentino, e trabalhar com sua equipe em projetos de tokenização no país.
O governo argentino correu para negar qualquer vínculo com o empresário. No entanto, postagens antigas do próprio Milei reforçam que Davis, de fato, teve alguma participação no governo.
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Uma criptomoeda e uma tempestade política
O economista Claudio Lozano, líder do partido Unidad Popular, foi o primeiro a apresentar uma denúncia formal contra Milei na Justiça — haverá um sorteio do juiz responsável pelo caso nesta segunda-feira (17).
Outros especialistas em tecnologia e advogados também entraram na briga, acusando Milei de ter participado da “maior fraude da história” no setor cripto.
No documento, os denunciantes solicitaram que as autoridades judiciais adotem “medidas cautelares de proteção de provas”, incluindo uma “busca e apreensão na Presidência da Nação para confiscar todos os equipamentos eletrônicos (computadores, telefones, tablets, laptops)”; e que se “identifique e realize buscas nos domicílios dos denunciados e das empresas envolvidas”.
Davis, por sua vez, tenta se afastar da polêmica. Ele prometeu devolver os lucros obtidos para acalmar os investidores e negou que a $LIBRA tenha sido um esquema fraudulento.
“Foi um plano que deu errado, mas há US$ 100 milhões disponíveis esperando o que fazer”, declarou em entrevista ao jornalista e youtuber Stephen Findeisen, de acordo com o La Nación.
Além disso, Davis afirmou temer pela sua vida e disse que não quer ser o inimigo número um, negando estar se beneficiando do colapso da moeda.
De maneira mais polêmica, o cofundador da $LIBRA também garantiu que Milei concederia uma entrevista televisiva para apoiar a criptomoeda e tentar reverter a derrocada do token.
“Milei não ganhou dinheiro com isso”, assegurou.
A menos de um ano das eleições legislativas, o impacto político desse episódio ainda é incerto. Adversários de Milei ameaçam com ações judiciais e até um impeachment, embora a aprovação de um processo desse tipo exija dois terços do Congresso – um cenário improvável.
O partido de centro-direita do ex-presidente Mauricio Macri, que tem apoiado as reformas de Milei, expressou descontentamento, mas rejeitou a tentativa da oposição peronista de tirá-lo do cargo.
Para Alejandro Catterberg, diretor da consultoria Poliarquia, o episódio é um alerta: “O equilíbrio macroeconômico precisa vir acompanhado de equilíbrio emocional”, disse à Bloomberg. “Esses episódios geram muita incerteza desnecessária”.
*Com informações do Money Times, Bloomberg e La Nación
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