A lista do último The World’s 50 Best Restaurants 2024, revelada em Las Vegas, coroou o espanhol Disfrutar como primeiro entre os 50 melhores restaurantes do mundo. Mas quem acompanha esse jogo sabe que, tão importante quanto os vencedores, são os sinais que apontam para o futuro. E em 2025 estas pistas já começaram a aparecer.

A publicação recente da lista estendida, com as posições 51 a 100 do The World’s 50 Best 2025, trouxe indícios valiosos. E o que ela adianta para a cerimônia que acontece nesta quinta-feira (19) em Turim, na Itália, é uma possível nova consagração espanhola, bem como uma mudança no papel global da gastronomia brasileira esse ano.
O jogo da sucessão: por que o número 1 é mais que um título
O topo da lista 50 Best não é apenas prestígio. É também um ativo econômico poderoso. Garante filas de espera que duram meses, impulsiona o turismo gastronômico, valoriza territórios e até influencia o valor de marcas e produtos ligados ao restaurante. No mundo da alta gastronomia, portanto, um “número 1” é quase um unicórnio do setor de hospitalidade.
Mais do que um “melhor restaurante do mundo”, o 50 Best premia um conjunto de fatores. É um chef com uma cozinha autoral e identitária, sim, mas também uma narrativa forte, o impacto cultural de um empreendimento, o olhar de futuro e uma presença internacional ativa – sim, relações públicas importam.
E neste jogo, a Espanha já entra com vantagem histórica, técnica e emocional. Mas, como sempre, o mundo da gastronomia adora uma reviravolta.
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Os favoritos que hablam
O reinado do Disfrutar (veja mais sobre ele no post abaixo) não apenas simboliza a volta da Espanha ao número 1 após uma década de hiato – ele pode ser só o começo de um novo ciclo ibérico de domínio.
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Hoje são duas as apostas do gigante ibérico para o topo do mundo em 2025. Do fogo basco à rave madrilenha, os favoritos que hablam são o Asador Etxebarri, de Victor Arguinzoniz, e o DiverXO, império sensorial e visual comandado por Dabiz Muñoz.
O primeiro é uma ode ao essencial: fogo, produto e silêncio. Já foi número 3, mas está sempre entre os favoritos e pode ganhar tração em um momento de cansaço do espetáculo.
Já o segundo aparece cotado como a grande surpresa da edição. Se o Etxebarri é monástico, o DiverXO é pura rave gastronômica. Muñoz, um chef maduro, mas ainda rebelde, mantém com estilo maximalista e provocador seu “circo dos sabores extremos”. Um exagero, aliás, que pode ser justamente a mensagem que o 50 Best quer passar em 2025.
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Ainda falando espanhol. mas com acento peruano, há o Maido, O chef Mitsuharu “Micha” Tsumura já teve seu momento no topo da América Latina e agora volta com força ao radar global.
Com os ex-vencedores conterrâneos do Central fora da jogada (mais sobre os Best of the Best abaixo), o Maido pode se tornar o novo símbolo da força peruana, e da cozinha nikkei, no cenário internacional
O enfant terrible e a alquimia dinamarquesa
O Alchemist, em Copenhague, segue como o mais experimental, e talvez o mais merecedor, na disputa deste ano. Se o futuro tivesse um restaurante-sede, seria o Alchemist. A experiência imersiva e teatral criada por Rasmus Munk desafia os limites da culinária, arte e ciência. Está no Top 5 há anos, mas ainda não levou o título máximo.
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Com a saída de ex-vencedores históricos, como Noma e Geranium, da corrida, talvez 2025 seja o ano em que o Alchemist prove que o futuro, finalmente, chegou. A pergunta é: o júri The 50 Best está pronto para uma escolha tão disruptiva?
Olhando pela ótica da segurança, o Table, de Bruno Verjus, é o francês mais falado do mundo hoje. Poético, radical e sem o ranço da velha escola.
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Um enfant terrible da gastronomia francesa contemporânea, Verjus é autodidata, escritor e médico. Sua cozinha é uma ode à imperfeição poética. Em 2024, seu Table ficou em 3º lugar, desbancando medalhões franceses. Sua ascensão meteórica o posiciona como um franco-atirador perigoso na corrida pelo número 1. (E se tem uma coisa que o The 50 Best adora é uma boa história de transgressão com alma.)
Brasil em transição
A queda que balançou o porquinho
A maior surpresa (ou talvez não tanto assim) foi a queda brusca da Casa do Porco, de Jefferson Rueda, que já derrapara do 12º lugar em 2023 para o 27º em 2024, e agora despencou para a 83ª posição na lista estendida. Em três anos, passou de protagonista global a risco de saída.
Por que isso importa? Porque a Casa do Porco era, até recentemente, a imagem internacional da gastronomia brasileira. A queda sinaliza que o mercado internacional quer renovação e está cobrando posicionamento, narrativa e frescor.
Oteque também perde força
Outro nome carioca que sofre erosão é o Oteque, de Alberto Landgraf, agora na 81ª posição, queda acentuada portanto, em relação ao auge vivido entre 2021 e 2022.
O projeto segue consistente e admirado, mas aparentemente perdeu tração junto aos votantes do 50 Best. Faltou comunicação? Renovação? Visibilidade global? Provavelmente um pouco de tudo.
Os novos brasileiros na lista: Evvai e Tuju entram em cena
No lado positivo da balança, dois estreantes brasileiros entram no ranking 51-100 e acendem o alerta de renovação real.
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O primeiro é o paulistano Evvai, do chef Luiz Filipe Souza, que estreia na lista com cozinha ítalo-brasileira contemporânea, serviço elegante e narrativa sólida. A entrada é mais que merecida: é simbólica. É a nova São Paulo sem vergonha de ser cosmopolita.
Também de São Paulo vem o Tuju, de Ivan Ralston, retorna com força após anos fora do circuito. Agora com casa nova e um menu mais centrado na técnica e na brasilidade refinada, teve a volta vista com bons olhos, principalmente por jurados que valorizam consistência e autoria.
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Ambos os restaurantes trazem um detalhe estratégico: trabalho sólido de marca, narrativa clara e maturidade profissional, três pré-requisitos não negociáveis para estar no radar da 50 Best hoje.
O nome que pode surpreender em 2025: Lasai
Silencioso, sofisticado e com consistência cada vez mais sólida, o Lasai, de Rafa Costa e Silva, foi de dark horse a alazão da gastronomia brasileira. Já figurou no top 100 nos últimos anos e agora, com a queda de antigos gigantes, pode estar pronto para subir à lista principal.

A seu favor, o espaço carioca tem um projeto autoral, com ingredientes próprios, longe de modismos. O chef também possui boa reputação internacional. Por fim, o espaço oferece uma estética de experiência refinada, intimista e coerente.
Se 2025 tiver um brasileiro entre os top 50, não seria absurdo que fosse o Lasai. E isso, por si só, mudaria o eixo simbólico da gastronomia brasileira. O que não cairia nada mal em meio às mudanças tectônicas de nossa indústria.
Como funciona a votação do The 50 Best?
A lista é decidida por um colégio eleitoral global composto por 1.080 votantes divididos em 27 regiões do mundo. Cada região tem um presidente (Academy Chair), que seleciona 40 membros com perfil de “especialista em gastronomia”, incluindo jornalistas, chefs, críticos, donos de restaurantes e frequentadores assíduos.
Cada votante elege 10 restaurantes, sendo que pelo menos 3 deles devem estar fora do seu país de residência. As escolhas são baseadas em experiências pessoais nos 18 meses anteriores à votação. O sistema é confidencial e rotativo: a cada ano, 25% dos votantes são substituídos para renovar as perspectivas.
O que é o “Best of the Best”?
Desde 2019, os restaurantes que já ocuparam o número 1 entram para o Hall da Fama e deixam de competir nas edições seguintes. É o chamado grupo Best of the Best, uma espécie de “clube dos imortais” da alta gastronomia.
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Fazem parte desse clube exclusivo nomes como:
- Noma (Copenhague)
- El Celler de Can Roca (Girona)
- Osteria Francescana (Modena)
- Central (Lima)
- Eleven Madison Park (Nova York)
- Mirazur (Menton)
- Disfrutar (Barcelona)
- Geranium (Copenhague)
Isso significa que, mesmo que continuem excepcionais, esses restaurantes não podem mais disputar o primeiro lugar, abrindo espaço para novos nomes, como os apontados acima, brilharem.
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